A Mulher Escarlate

A Mulher Escarlate

A Mulher Escarlate é parte fundamental do sistema mágico desenvolvido por Aleister Crowley. Mas a importante função da sacerdotisa nos rituais mágicos já era velha conhecida de diversas culturas muito mais antigas.

Babalon e a Besta

A Mulher Escarlate, que Crowley chamava de Babalon, é retratada no Arcano XI do tarô que ele mesmo desenvolveu. Não à toa, o nome deste Arcano foi alterado no tarô de Thoth (Crowley-Harris). Enquanto na maior parte dos baralhos é denominado A Força, no tarô de Thoth aparece como A Luxúria. E seu número é onze, não oito.

Dentro do sistema de Crowley, isso faz todo o sentido – a Mulher (Babalon) cavalgando a Besta é de fato uma imagem de luxúria, e não há necessidade de amenizar os conceitos associando essa cena explicitamente sexual apenas com a ideia de Força.

Crowley optou por grafar Babalon de forma levemente diferente da Babilônia bíblica por um motivo numerológico. O número de Babilônia (Babylon) é 165, e o de Babalon é 156. Enquanto 165 não tem grandes significados, Babalon transborda sentidos ocultos e relevantes.

156 é o número da montanha sagrada (Sião), e da Cidade das Pirâmides – locais simbólicos aos quais a Mulher Escarlate pode facilitar a entrada. É também o número do Caos, fortemente presente no sistema de Therion.

Além disso, Babalon significa Portão do Sol – e é através desse Portão que o poder solar (masculino, fálico) pode entrar, realizando grandes feitos mágicos.

A Luxúria no Tarô de Crowley-Harris

A Mulher Escarlate na Antiguidade

Pelo poder gerador da Mulher, as culturas mais antigas da Terra não eram patriarcais, e sim matriarcais. A Mulher era considerada mais importante do que o homem, cujo papel no processo reprodutivo nem mesmo era conhecido pela sabedoria popular.

De um ponto de vista puramente sociológico, é compreensível que a Mulher tenha papel tão importante nos ritos mágico-religiosos. O fato de que resultados práticos corroboram a visão mítica só colaborou para que ela tenha mantido importante posição na magia cerimonial de diversas culturas, algumas das quais existem até os dias de hoje.

Nos cultos ancestrais da África, por exemplo (não confundir com as religiões de matriz africana tão difundidas pelo Brasil), as chamadas Mulheres Fetiche desempenhavam uma importante função oracular, em transe, em contato com cobras.

Nas Grécia antiga, as pitonisas também exerciam uma importante função oracular. Homens não eram considerados capazes de realizar essas funções.

As Suvasinis e os Caminhos da Mão Esquerda e da Mão Direita

Na Índia, as chamadas suvasinis – literalmente, damas de cheiro adocicado – eram parte importantíssima de todos os ritos, até mesmo dos mais simples atos devocionais. Talvez seja na tradição tântrica que as suvasinis tenham desenvolvido o máximo de seu potencial.

Há diversas tradições tântricas, e cada uma enxerga a função da suvasini de uma forma diferente.

A principal distinção entre o famoso Caminho da Mão Esquerda e o Caminho da Mão Direita está justamente na visão que se tem da suvasini nos ritos.

O Caminho da Mão Esquerda (Vama Marg) acredita que a suvasini deve realizar intercurso sexual durante os ritos. O Caminho da Mão Direita (Samaya Marg), por outro lado, acredita que isso só macula a celebração, e que a suvasini deve permanecer intocada.

Mas tanto o Vama quanto o Samaya Marg concordam com uma coisa: o poder da suvasini emana do uso dos kalas, as emanações ou secreções geradas pelo seu corpo, formadas não só pelas glândulas endócrinas mas também pelos chakras ou centros de energia sutil. O controle dos kalas é fruto de habilidade e treinamento da parte da suvasini, não é uma coisa que ocorre naturalmente.

Há, no total, mais de dez tipos de kalas, mas um dos mais importantes para a realização da magia é o sangue menstrual. Sua importância é exaltada no livro que baseia todo o sistema de Thelema:

O melhor sangue é o da lua, mensal

 

AL, III:24

Criação e Destruição

O próprio Liber AL Vel Legis explicita a importância do sangue da lua emanado pela Mulher Escarlate. Crowley, de fato, fez várias operações com esse elixir, normalmente com a intenção de manifestar efeitos práticos na realidade objetiva – como, por exemplo, conseguir dinheiro.

Este sangue da lua também é bastante relevante para operações destrutivas:

(…) o escarlate está ligado à substância vermelha da fonte feminina, o mênstruo primordial da energia mágica, e também com o aspecto negatório e destrutivo da magia e bruxaria lunar ou “negra”

 

Kenneth Grant, Aleister Crowley e o Deus Oculto – Capítulo 2: A Mulher Escarlate

Seja para criar ou para destruir, o vermelho do sangue é o motivo para Escarlate ser a cor de Babalon.

As Mulheres Escarlates de Crowley

Dada a importância primordial da Mulher Escarlate no sistema de Crowley, é natural que ele precisasse de companheiras mágicas ao longo de sua jornada. Mas chama um pouco a atenção o fato de que muitas Mulheres Escarlates acompanharam Crowley ao longo de sua vida.

Uma razão para isso é que Crowley nunca estava satisfeito com sua escolha. Apesar de ter trabalhado com diversas Mulheres Escarlates, encontrava defeitos em todas, e não era capaz de reconhecer que nenhuma tenha sido ideal. Verdade seja dita, ele reconheceu a importância e a contribuição de cada uma para sua obra.

Uma outra razão é que muitas vezes essas mulheres acabavam por perder a sanidade. Em sua maioria, não possuíam treinamento mágico prévio; e foram expostas a uma sobrecarga de operações mágicas muito potentes. Se fossem treinadas e preparadas, como as suvasinis, talvez isso não ocorresse.

Para finalizar, Crowley era um notório misógino, e tratava as mulheres como itens descartáveis. Assim que uma Mulher Escarlate deixava de lhe ser útil, ele prontamente partia à busca de outra.

O Segredo da Mulher Escarlate

O verdadeiro segredo da Mulher Escarlate não está escrito em nenhum livro de Crowley. Ele mesmo achava esse segredo poderoso e perigoso demais para ser publicado. Fazia questão de transmitir este conhecimento oralmente, em instrução privada, a quem julgasse digno.

Kenneth Grant, o último discípulo de Crowley, não recebeu essa instrução diretamente, mas conviveu com Crowley e, após sua morte, teve acesso a seus documentos pessoais e escritos inéditos. Ele acreditava ter conseguido restaurar o segredo da Mulher Escarlate, que ele revela em seu livro Aleister Crowley e o Deus Oculto.

O livro também traz uma exposição da Mulher Escarlate dentro de diversos contextos históricos e culturais, e revela em detalhes o uso mágico dos kalas.

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