A Nuit dos Egípcios e a Nuit de Thelema

A Nuit dos Egípcios e a Nuit de Thelema

O Livro da Lei, recebido em 1904, trouxe toda uma nova camada de significados para algumas figuras da mitologia egípcia. Uma das que apresenta diferenças mais significativas é Nuit.

É claro que o assunto é infinitamente profundo, e é impossível apontar todos os detalhes relevantes em um texto curto. Mas apontaremos abaixo algumas das principais diferenças e semelhanças.

Os Muitos Nomes de Nuit

Como ocorre com virtualmente todas as divindades egípcias, o nome de Nuit não sobreviveu aos milênios com uma grafia única. Na verdade, Nuit nem é a forma mais comum usada nos escritos sobre os egípcios – normalmente encontra-se Nut. Mas também se usa, entre outros, Nunut, Nenet, Naunet e Newet. Já na tradição Thelêmica, Nuit é uma das únicas formas empregadas. No entanto, Nu também aparece bastante.

Uma Genealogia Complicada

Na tradição egípcia, Nuit é normalmente considerada filha de Shu e Tefnut. Seu irmão e esposo é Geb, e ela é a mãe de Osíris, Set, Ísis e Néftis. É claro que as fontes divergem, mas essa é a leitura mais amplamente aceita.

A genealogia Thelêmica é bem mais simples. A deusa não possui paternidade ou filiação. Só há Nuit e Hadit. E ambos são pais de Ra-Hoor-Khuit.

Com o Deus & o Adorador eu nada sou: eles não me veem. Eles são como sobre a terra; Eu sou Céu, e não há outro Deus além de mim, e meu senhor Hadit.

 

Liber AL vel Legis, I:21

De acordo com Kenneth Grant, em seu O Renascer da Magia, dentro da tradição Thelêmica, Nuit pode ser equiparada a Ísis em alguns aspectos. Sendo uma divindade celestial, o aspecto terreno de Nuit é Ísis – que também se relaciona com o conceito da Mulher Escarlate. Da mesma forma, o aspecto celestial de Ísis é representado por Nuit. Há também no Livro da Lei uma passagem que dá margem à interpretação de que as duas deusas são dois aspectos da mesma coisa:

[…] eu sou Infinito Espaço, e as Infinitas Estrelas dali […]

 

Liber AL vel Legis, I:22

Em inglês, língua na qual o Livro da Lei foi originalmente recebido, esta passagem é Infinite Space […] Infinite Stars – um acrônimo para ISIS. Não à toa, Grant desenvolveu sua linha de trabalho Thelêmica na famosa Loja Nu-Isis.

Os Símbolos

Para os egípcios, Nut era simplesmente uma deusa do céu noturno. Em dado momento, passou a representar o céu de forma geral. Na verdade, seu próprio nome se traduz literalmente como céu. Estava representada nos céus pela constelação de Draco, o Dragão, que era usada como forma de contagem de tempo. Era normalmente representada como uma mulher nua, uma grande vaca ou porca, ou um sicômoro. Em todos os casos, seu corpo é gigantesco e representa o céu. Em sua forma humana, é comum que seja representada com um pote sobre a cabeça. Essa é uma representação do útero, da fertilidade. Nuit é, acima de tudo, uma deusa de fertilidade.

Na tradição de Thelema, Nuit também é representada antropomorficamente como uma mulher, arqueada sobre tudo, como o céu. Nessas representações gráficas, Hadit é um disco solar, o princípio masculino essencial. Esse simbolismo é mostrado claramente na estela da revelação.

Ela é o princípio fundamental feminino. Hadit é o masculino. Ela é o círculo, ele é o ponto. Ela é o triângulo apontado para baixo, ele é o triângulo apontado para o alto. Yin, Yang, Yab, Yum, Negativo, Positivo. Todas as formas de dualidade podem ser representadas nesses termos. Eles se completam de forma absoluta e inequívoca. Nuit é parte integral da fórmula da mulher unida à besta.

Em um sentido metafísico, Nuit é o Contínuo de Êxtase que resulta da resolução da existência mundana em elementos de inexistência. Ela (Nuit) é representada como uma forma feminina humana arqueada sobre a terra, como na Estela da Revelação. Em um sentido mais especializado e mágico, Nuit é o complemento de Hadit, o ponto onipresente do qual ela é a circunferência infinita. Ela é Norte, e se iguala a Hórus; ele é Sul, e se iguala a Set.

 

Kenneth Grant, em O Renascer da Magia

O Renascer da Magia detalha o simbolismo apresentado de forma alegórica nO Livro da Lei, com explicações de Kenneth Grant, o último discípulo direto de Aleister Crowley. Se você ainda não teve a oportunidade de estudar a fundo o Liber AL vel Legis, O Livro da Lei, você pode facilmente encontra-lo na Internet. Mas se você prefere estuda-lo a fundo e ter uma boa tradução em papel, ele está disponível na íntegra em dois dos nossos livros. Os Livros de Thelema reúne traduções de todos os principais textos necessários para compreender esta corrente. O Equinócio dos Deuses traz a versão dO Livro da Lei feita pelo lendário Marcelo Ramos Motta. Ambos estão disponíveis na loja da Penumbra Livros.

 

Veja Também:

O Simbolismo Sexual da Estela da Revelação

A Mulher e a Besta

A Loja Nu-Isis

Os anos de Kenneth Grant ao lado de Crowley

O Renascer da Magia

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