Por que odeiam o jovem místico

A bruxaria, o paganismo ou práticas ocultas estão crescendo de forma exponencial, como se vê no interesse ardente de grupos de jovens por astrologia e o misticismo em geral.

O ocultismo saiu das sombras para as páginas de instagram populares, inclusive da indústria de beleza, que se adapta e se apropria de conteúdos relacionados ao glamour e bem-estar.

Assim que um movimento místico passa a ser um pouco mais conhecido, o contramovimento faz questão de mostrar as suas garras. É assim com qualquer circulação social, política ou espiritual.

O aumento do paganismo nos EUA

Houve um aumento explosivo de místicos nos Estados Unidos, especialmente entre a geração millenial, tal como demonstram os dados:

Embora o governo dos EUA não colete regularmente dados religiosos detalhados, devido a preocupações de que possa violar a separação entre igreja e estado, várias organizações tentaram preencher a lacuna de dados. De 1990 a 2008, a Trinity College em Connecticut realizou três grandes pesquisas religiosas detalhadas. Aqueles mostraram que a Wicca cresceu tremendamente nesse período. De um número estimado de 8.000 wiccanos em 1990, eles descobriram que havia cerca de 340.000 praticantes em 2008. Eles também estimaram que havia cerca de 340.000 pagãos (pdf) em 2008.

Embora a Trinity College não tenha feito uma pesquisa desde 2008, o Pew Research Center pegou o bastão em 2014. Ele descobriu que 0,4% dos americanos, ou cerca de 1 a 1,5 milhões de pessoas, se identificam como Wicca ou Pagã – o que sugere um crescimento robusto continuado para as comunidades.

Fonte por QZ

Práticas místicas se refletem na cultura e no consumo

A partir deste crescimento, as práticas que antes eram marginais se refletem na moda, especialmente com roupas que remetem ao imaginário da “essência” da bruxa, fazendo alusões aos antigos pagãos e até mesmo aos contos de fada.

A indústria da aromaterapia também se beneficiou, já que o interesse por perfumes com características espirituais aumentou. Agora fica mais fácil encontrar produtos naturais para quem quer atrair um parceiro, parecer mais atraente ou até mesmo lutar contra ansiedade e insônia, por exemplo.

A cultura mística tomada como superficial

Não há como um movimento crescer sem impactar o mercado, isto é fato, porque vivemos numa sociedade de mercado.

O que tem um lado extremamente negativo, como o excesso de compras de cristais, gerando o trabalho escravo infantil em alguns países. Mas é bom lembrar que até mesmo chocolates, peças de roupas e de computadores sofrem do mesmo mal. Cabe a todos nós consumirmos de forma consciente.

De fato, os jovens místicos precisam ler mais, se informar mais e consumir de maneira com que estejam alinhados com atitudes de fato ecológicas, uma vez que sua maioria acredita que a Terra é uma deidade.

O contramovimento

Não é necessariamente o público racionalista, aquele que rejeita qualquer expressão espiritual e religiosa, que odeia o jovem místico.

Vê-se muitos jovens cristãos criticando a prática alheia e valendo-se de imagens (pinturas e monstagens) das cruzadas.

Chama-se cruzada a qualquer um dos movimentos militares, de caráter parcialmente cristão, que partiram da Europa Ocidental e cujo objetivo era colocar a Terra Santa (nome pelo qual os cristãos denominavam a Palestina) e a cidade de Jerusalém sob a soberania dos cristãos. Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina estava sob controle dos turcos muçulmanos.

Os ricos e poderosos cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém (Hospitalários) e dos Cavaleiros Templários foram criados pelas Cruzadas. O termo é também usado, por extensão, para descrever, de forma acrítica, qualquer guerra religiosa ou mesmo um movimento político ou moral.

Fonte: Só História 

As Cruzadas contemporâneas se identificam por dois movimentos: a chacota repetitiva em relação às práticas alheias: “olha lá, se achando bruxa, ou vampiro, ou qualquer outro ser sobrenatural” e a rejeição da espiritualidade ou da poesis, esta última tomada como desagradável.

E o uso do cientificismo e do racionalismo apenas quando lhe convém. Pare eles, as jovens místicas brasileiras são riquinhas filhas de papai e que têm tempo o suficiente para brincarem com seus caldeirões.

A riqueza não é algo condenável para o ocultismo, pelo contrário. Lembrem-se: foi Jesus Cristo quem disse que “é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no céu”, não Aleister Crowley.

Quem é o jovem que odeia o jovem místico

De fato falvez seja mais simples ser um “católico não praticante” e só ir a igreja em caso de nascimento, casamento ou morte; ou ser um cristão hipócrita que aponta o pecado no outro e não olha para as suas próprias práticas pecaminosas: aqui incluo sexo antes do casamento.

Ou então o jovem que odeia o jovem místico irá vestir o manto hiperracionalista e novamente considerar qualquer procura pelo sagrado como um ato tolo e fadado à ridicularização. Em ambos os casos, nota-se uma masturbação compulsória enquanto assistem aos seus pornôs. Isto é o mais próximo que chegarão à espiritualidade. Naturalmente são as bruxas que consideram o sexo como ato sagrado. 

Rejeitam o fato de que no Brasil principalmente sempre fomos um país extremamente místico. Muito antes da influência do paganismo europeu, nós tínhamos a influência das religiões de matriz africana.

Estas também têm suas práticas ridicularizadas, porém com mais força e brutalidade, visto que as Cruzadas já não são mais feitas com memes e sim com paus, pedras e fogo.

Nestas cruzadas também estão inseridos os traficantes de drogas que não respeitam as religiões de matriz africana. “Em nome de Jesus”, bandidos destruíram terreiros no Rio, como ocorreu com o caso da mãe de santo Carmen de Oxum, que fugiu do país por medo.

Oxum, nas religiões de origem africana, é a entidade que representa fertilidade e amor. Mas na tarde de setembro em que Carmen Flores, a mãe Carmen de Oxum, foi recebida por bandidos armados e obrigada a destruir seu próprio terreiro em Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o tom era de puro ódio nas ofensas à “diaba chefe”. Segundo a polícia, Carmen, de 66 anos, foi vítima da cada vez mais intensa cruzada que traficantes convertidos a religiões evangélicas pentecostais vêm travando contra praticantes de candomblé e umbanda no estado. Aterrorizada, a mãe de santo antecipou uma viagem planejada para o ano que vem e embarcou para a Suíça, onde tem amigos. “Fui expulsa pelo tráfico”, disse a VEJA, por telefone.

Fonte: Veja

 

Todos odeiam o misticismo

Por fim, ainda que o misticismo cresça nas redes sociais, que garotas praticantes sejam acusadas disso ou daquilo, no fim a bruxaria sempre será o outro.

O ocultismo sempre será marcado pela intolerância, seja no discurso ou na prática. Por covardia, medo ou desconhecimento, é mais fácil “queimar a bruxa” no imaginário popular do que buscar seu entendimento.

A verdade é o que jovem que odeia o jovem místico não acredita em nada e nem ninguém, muito menos em si mesmo.

Texto por Lua Valentia