A Árvore da Morte: Lilith, a Rainha da Noite

Este é o primeiro post de uma série sobre as Qliphoth, ou a Árvore da Morte (ou do Conhecimento, se preferir). A primeira Qlipha (singular de Qliphoth) é Lilith, e é por aí que começa nossa jornada. Mas se você acha que Lilith é só uma demônia mitológica, ou se não faz ideia do que estamos falando, continue lendo. A gente explica.

As Árvores da Vida e da Morte

Existem diferentes caminhos para a iluminação. O material que normalmente se encontra por aí, tanto em livros quanto na Internet, costuma tratar da iluminação por LVX (luz) como o único caminho viável. Na verdade, outros caminhos normalmente nem são mencionados. Esta via de iluminação também é chamada de Caminho da Mão Direita, e na tradição esotérica ocidental costuma ser descrita como um passeio pela Árvore da Vida.

Pelo outro lado, o que se convencionou chamar Caminho da Mão Esquerda (ou LHP, que vem da sigla em inglês) trata de outra forma de iluminação, completamente diferente: iluminação por NOX (sombra). Esta segue um caminho pela Árvore da Morte, ou Árvore do Conhecimento.

A Árvore da Vida e a Árvore da Morte

Apesar do nome um tanto macabro, a ideia do Caminho da Mão Esquerda não é assim tão sinistra. (Perdão pelo trocadilho.) Enquanto o objetivo do Caminho da Mão Direita é o aprimoramento do indivíduo, livrando-se de seus defeitos até se tornar um com Deus, o Caminho da Mão Esquerda tem uma abordagem mais ousada. Em vez de varrer seus defeitos para baixo do tapete, a ideia é aprender a lidar com eles. E em vez de se tornar um com Deus, a ideia é que o próprio indivíduo se torne um Deus, e possa criar sua própria realidade.

E tudo isso começa escalando a Árvore da Morte. Mas primeiro, vamos falar de Lilith.

A Lilith Mitológica

Ainda que receba nomes distintos, o conceito de Lilith está presente nas mais diversas culturas, da antiguidade remota aos dias de hoje. Mais do que parte do mito da criação ou uma entidade com existência objetiva, ela também é uma das Qliphoth – o ponto mais baixo da Árvore do Conhecimento.

Algumas das primeiras referências a Lilith de que se tem registro vêm da Suméria, onde era conhecida apenas como Lil, uma força demoníaca das tormentas, e fortemente associada à Lua. O Zohar cita que ela procriou com o Adão Celeste, tendo dado origem a Adão e Eva como os conhecemos. No Talmude, a história é um pouco diferente, e Lilith é representada como a primeira esposa de Adão, antes de Eva. A própria Bíblia dá margem à possibilidade de Adão ter tido outra companheira antes de Eva, em Gênesis 2.

Em todos estes mitos, Lilith representa a força feminina arrebatadora e incontida; a força da Terra que o homem não é capaz de controlar. É o princípio de geração e destruição incessante, muito similar a Kali, com seus aspectos bondosos e terríveis. E, como tudo que não pode ser contido, as histórias transformaram este conceito em algo indesejável, algo a ser temido. Por isso, nos mitos abraâmicos, Lilith deixou de ser a companheira de Adão e foi exilada para as terras selvagens, passando a conviver com demônios, eventualmente tornando-se sua rainha. A energia feminina domada e contida, considerada mais desejável pela sociedade patriarcal, passou a ser representada por Eva.

Este aspecto feminino incontrolável e isento de moralidade faz Lilith ser frequentemente representada como uma succubus ou uma energia vampírica. Um mito Egípcio conta que o deus Khepra colocou seu membro em sua mão, e se abraçou e amou sua própria sombra. Esta é uma das situações em que o conceito de Lilith está presente, mesmo que não seja citado nominalmente. Kenneth Grant descreve em mais detalhes os aspectos de Lilith como succubus ou vampira em O Renascer da Magia.

Lilith como Qlipha

Lilith também é uma Qlipha. É a menos elevada entre as Qliphoth, sendo o outro lado de Malkuth. De acordo com a Qabalah, Malkuth se relaciona com o mundo material, físico, com manifestações objetivas e palpáveis da realidade. Lilith, por outro lado, engloba os aspectos existentes, mas não notados na realidade cotidiana; as partes mais reprimidas da consciência. Esta Qlipha se manifesta no sono, mas pode ser acessada por outros meios. Thomas Karlsson, em Qabalah, Qliphoth e Magia Goética, se aprofunda nos aspectos desta Qlipha, e traz alguns métodos de acessá-la. Desvendar e acessar Lilith é um passo fundamental para estabelecer contato com o restante da Árvore da Morte. O caminho da iluminação por NOX é trilhado escalando a Árvore, esfera por esfera, e Lilith, sendo o outro lado de Malkuth, é a porta de entrada para essa exploração.

Continuaremos desbravando a Árvore da Morte no restante desta série, e a próxima parada é Gamaliel. Prepare-se. E, se quiser saber mais sobre Qliphoth e o Caminho da Mão Esquerda, o livro Qabalah, Qliphoth e Magia Goética é um excelente ponto de partida.

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Lilith, 1892, John Collier

Veja Também:

A Árvore da Morte: Gamaliel, Os Obscenos

A Árvore da Morte: Samael, o Veneno de Deus

A Árvore da Morte: A’Arab Zaraq, Os Corvos da Dispersão

A Árvore da Morte: Thagirion, os Disputadores