O feminino em Thelema segundo a Corrente Tifoniana

Kenneth Grant foi o último discípulo direto de Aleister Crowley e criou a Corrente Tifoniana. Em seus livros O Renascer da Magia e Aleister Crowley e o Deus Oculto, Grant ressalta o tempo todo a importância do feminino na visão Thelêmica.

Crowley recebeu as Chaves do Mistério do novo Aeon, que estão disponíveis na Ordo Templi Orientis, a O.T.O. Tal Mistério está intrisicamente ligado à liberdade, o que obviamente inclui a liberdade feminina de pensar, agir e falar. Estes segredos infelizmente não são para todos, visto que muitos ainda adormecem presos às dinâmicas do decrépito antigo Aeon.

Como pode um segredo como o que a O.T.O. possui ajudar aqueles que estão confinados em sua servidão, que querem ser confinados, que não têm ânsia de libertação? A resposta é: ele não pode. A O.T.O. é exclusivamente para aqueles que percebem a urgência de adquirir liberdade pessoal de desenvolver suas Verdadeiras Vontades.

Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto

Aspirantes a ocultistas podem de fato buscar entender o que significa a palavra liberdade, porém, como o próprio Grant disse, muitos fracassam tentando:

Se o candidato fracassar em ‘atingir a nota’, ele cai novamente em seus velhos hábitos, a velha servidão, e vegeta até finalmente se decompor;

Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto

A mágicka do novo Aeon é uma apaixonada união dos opostos

Thelema, de modo geral, substitui as tradições antigas do Aeon monoteísta, principalmente o Cristianismo e o Judaísmo. Enquanto o monoteísmo suprimia o feminino, Thelema o celebra, colocando-o em igualdade com o masculino, inclusive de forma cerimonial.

As características submissas do feminino no monoteísmo, tais quais o silêncio da mulher, a cega obediência feminina no casamento, a repressão da vontade própria etc, são completamente anuladas por Thelema, sendo a mulher não uma sombra de seu marido, mas uma pessoa completa buscando compreender e vivenciar suas Verdadeiras Vontades, independentemente de estar ou não casada.

A importância da mulher é também representada pela mágicka sexual, sem moralismos:

Portanto, não há lugar em Thelema para asceticismo do tipo praticado pelos Cristãos, cujos sacerdotes negam o sacramento ao qual eles próprios devem suas existências! A Fórmula de Thelema — amor sob vontade — é adequada à lei natural, e não uma blasfêmia contra ela.

Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto

O apego às ilusões do antigo Aeon levam muitos candidatos à Thelema reproduzirem as velhas falácias monoteístas. Estes são inaptos, uma vez que reprimem a liberdade alheia em detrimento da própria. Uma vez que fracassam, é possível que continuem reproduzindo conceitos amplamente distorcidos, porém muito distantes do que Thelema de fato representa.

A mulher como Deusa em Thelema

De modo algum a mulher é submissa aos desejos de outrem enquanto consciente de sua divindade. No capítulo 6 de Aleister Crowley e Deus Oculto, Grant nos apresenta um capítulo sobre controle de sonhos por meio da Mágicka Sexual.

Em primeiro lugar, o corpo da mulher Thelemita é absolutamente sagrado, portanto inviolável. Os fluidos femininos representam a capacidade das mulheres em dar vida:

Eles aparecem lá na forma de fluidos sexuais, mas os kalas não são as secreções sexuais comuns, da forma como fisiologistas compreendem; são fluidos carregados com energia mágica que representa o potencial total da Mulher como um agente ou veículo  da Deusa que naquele momento tem um o poder de dar vida a qualquer coisa que deseje.

Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto

O Sangue Feminino é o tempo todo retratado como aquele de maior poder, sendo de extrema importância para as práticas thelêmicas. Já fizemos um post a respeito aqui.

Thelema e feminismo

Um dos assuntos mais debatidos hoje em dia é a relação de grupos Thelemitas e o feminismo. O que ambos teriam em comum? Thelema deixa evidente de que é preciso buscar A Verdadeira Vontade e isso é se libertar. Já o feminismo compreende a situação social em que vivemos, na qual mulheres ainda não têm a mesma liberdade que homens.

A mulher, assim, está se tornando progressivamente dinâmica e “elétrica”. Ela não mais concentra um tipo lunar e venusiano de energia; ela é instinto com uma feroz luxúria, que a conduz além da gestação de simples crianças físicas. Ela começa a vislumbrar a liberdade e a ter como certa sua libertação das fórmulas ancestrais e restritivas das forças Tifonianas da correntes pisciana. Os antigos ritos de Ísis velavam certos sinais ou chakras secretos que só agora começam a revolver nos veículos psicoastrais das novas sacerdotisas. Nos próximos poucos séculos, muitas dessas sacerdotisas entrarão no fluxo da onda vital humana que anima esse planeta.

Kenneth Grant – O Renascer da Magia

Noutras palavras: o magista homem tem menos cordas para se libertar enquanto busca o autoconhecimento. Já a mulher precisa de uma mudança coletiva para que possa operar em pé de igualdade para com o homem.

A prática afiada e persistente de Thelema, mesmo que por alguns poucos indivíduos dedicados, irá efetivamente derrubar a sociedade, facilitando o progresso desimpedido do Novo Aeon e a reintegração da consciência humana.

Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto

Thelema, mês LGBT e feminismo

Reconhecer que mulheres têm suas próprias Verdadeiras Vontades é o primeiro passo rumo à mudança do próprio paradigma. Reconhecer que elas, enquanto sacerdotisas Thelemitas, não são obrigadas a servir nenhum aspirante a thelemita é o básico enquanto ser humano.

E agora já que chegamos a estas noções tão óbvias, precisamos dar um passo além e entender que cada pessoa, inclusive do grupo LGBT, também tem sua própria Verdadeira Vontade e que esta deve ser respeitada. Muitos se perguntam por que há quase nada sobre Magia Sexual voltada para a comunidade LGBT, por que quase nada se fala.

Há de fato um silêncio sepulcral no que diz respeito ao tema, especialmente quando pensamos em lésbicas. Pois o fato de mulheres desejarem e amarem outras mulheres não serve aos interesses do falocêntrico, frustrações estas que ele confunde como sua “verdadeira vontade”.

Convidamos os insatisfeitos com o vazio de textos e afirmações sobre isso que se pronunciem. Não se apeguem ao passado, como muitos fizeram, mas criem suas próprias narrativas. Assim, portanto, sejamos magistas coerentes com o novo Aeon, o século XXI e o bom senso.

Conclusão

A frase: “Não sou sua Babalon”, que inspirou este texto, causou um certo repúdio. Deve ser realmente difícil para um mago despreparado, que pensa que viver sua Verdadeira Vontade é impor seus caprichos aos outros, entender que na verdade as mulheres não o querem.

O candidato à Thelema contemporâneo recorrerá ao erro de suas próprias obsessões quando não conseguir reconhecer as necessidades de mudanças sociais para que cada pessoa possa encontrar sua Verdadeira Vontade. Ele estará sempre fadado ao fracasso, uma vez que não percebe como seu falocentrismo exagerado não corresponde à Thelema.

Ele pode, inclusive, se apropriar de forma indevida dos termos que envolvem Thelema, porém ele nunca será um Thelemita reconhecido. Seu trabalho não constará sequer nas notas de rodapé da história, exceto talvez como chacota, mas nem a isso se dignifica.

A mulher não existe para ser escravizada e se tornar submissa dentro do conceito de Thelema. Isso se chama BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) e tem um outro contexto que não cabe neste texto.

Recomendamos o textos Estupro e Magia Sexual e O Magnetismo pessoal da bruxa dominante para saber mais.

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