A morte é um assunto assustador para alguns e recorrente para outros. Recentemente, perdi minha mãe biológica. Eu a vi, pela última vez, duas semanas semanas antes do ocorrido. Nós não havíamos nos falado há 10 anos. Pensei que poderíamos retomar o contato a partir de então. Mas eu estava errada. Em 10 anos sem vê-la, eu simplesmente ignorei seu abraço. Agora é tarde demais para pedir outro.
É fácil falar sobre a morte do ponto de vista cético e distante, por quem não passou por uma perda dessas recentemente. Iremos pintá-la com cores mais sóbrias e menos dramáticas. Todos sabemos que ela é a única certeza, então por que não aceitá-la? Trata-se da Deusa que não tem hora marcada, que não diz como e nem quando irá chegar. Não dá para planejar muito. Inventamos seguro saúde, seguro de vida e até mesmo seguro funerário.
Mas uma hora deixaremos esse corpo e não teremos nenhum controle sobre o que as outras pessoas farão com ele, com o trabalho incompleto que aqui permanecerá, tampouco com a história que gostaríamos de contar a respeito de nós mesmos. Iremos morrer e nem todos terão a sorte de uma morte tranquila, dormindo após uma vida longa e saudável, cercados pela família e amigos.
Morte, processo de um ciclo natural
Somos minúsculos, insignificantes quando olhamos para uma escala a partir do ponto de vista do universo. Em O Livro do Baphomet, Julian Vayne e Nikki Wyrd tratam sobre o assunto colocando Baphomet como a força vital. Para eles, surgimos do Kia primordial, de um “bando de minúsculas borboletas caóticas”.
Os autores discorrem sobre alguns experimentos científicos, especialmente aqueles envolvendo experiências de quase morte (EQM), sobre as qual já escrevemos aqui, inclusive. E também falama respeito da evolução, ressaltando que o processo da vida é cíclico porque ela encontrou sua continuidade na morte.
A morte é uma estratégia para a vida, e isso se aplica no nível mais fundamental da biologia, não apenas quando vemos leões comendo zebras. A força vital, Baphomet, colocou a morte dentro de si. Bilhões de anos atrás, as primeiras células eucariontes surgiram; elas absorveram as mitrocôndrias para que fossem suas “usinas geradoras” e, escondido nessas mitocôndrias, estava o mecanismo de proteína caspase. A morte aguarda, encaracolada, no coração de todas as nossas células.
O Livro do Baphomet
O ciclo da vida também é exemplificado no livro Palo Mayombe, de Nicholaj de Mattos Frisvold.
Assim, temos aqui três princípios que são replicados em todos os momentos no nza. São a expansão, a contração e o movimento, replicados em todos os instantes no nascimento, na morte e no movimento que está sempre ocorrendo. Acontece quando o sol nasce e quando a lua se ergue, e em todos os movimentos dentre o nascer do dia e a alvorada. Esta tríade é simbolizada por três pedras de fogo, o elemento básico da criação.
A importância destas três pedras de fogo e raio é encontrada na estrutura social, bem como na estrutura espiritual, tanto na África Central como em Cuba.Palo Mayombe
Vida e morte se complementam, fazem parte do processo natural do universo, seja lá qual nome você der para ele: Caos, Baphomet, Deus… Por isso buscamos a espiritualidade, formas de entendermos melhor por que estamos vivos, por que nascemos e por que morremos.
Por isso tanto escrevemos a respeito, tanto lemos a respeito, ouvimos relatos e nos aprofundamos nos simbolismos da morte. Precisamos entender melhor como ela funciona, ousamos cortejá-la e ensaiar o encontro final.
A verdade é que morreremos sozinhos. Apenas nós mesmos poderemos passar por este processo. E nunca poderemos prevê-lo, mesmo que ensaiemos todas as noites ao dormir. “Na minha humilde opinião, morrer não é tão ruim quanto se pensa”, diz a médica britânica Kathryn Mannix.
O importante, para ela, é encararmos a Morte com maior naturalidade, diminuindo os eufemismos e nos preparando para a hora fatal. Morrer é um processo natural, tão certo quanto respirar. É democrático, recai sobre tudo que vive e nos traz um grande aprendizado perante Baphomet!
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