Ativismo Mágico: do W.I.T.C.H. ao Fora Temer

Ativismo Mágico: do W.I.T.C.H. ao Fora Temer

Por Vinicius Ferreira, editor da Penumbra Livros

Como qualquer década, os anos 1960 tiveram um milhão de manifestações culturais diferentes. Mas, sendo eu um filho dos anos 1980 e criado por um ex-hippie, algumas dessas manifestações falam mais alto para mim.

Hippies. Ditadura. Drogas. Flower Power (Ewige Blumenkraft!). Bob Dylan. Geraldo Vandré. Panteras Negras. Discordianismo. Vietnã. Feminismo de raiz. Muhammad Ali. AI-5. Woodstock.

Tudo isso tem a ver com (1) Estado e Sociedade repressores e (2) formas de combater essa repressão. Foi uma década de ativismo, e de porrada na cabeça dos ativistas.

Mas se por um lado temos os Panteras Negras conquistando seu espaço (merecido) por meio de técnicas questionáveis, por outro lado temos os hippies com seu famoso paz e amor. Os dois movimentos conseguiram desestruturar a sociedade. Mas a quantidade de porrada que eles tomaram foi bem diferente.

É claro que não existe fórmula simples – tanto Bob Dylan quanto Geraldo Vandré faziam música de protesto. Um está até hoje gravando e se apresentando. O outro foi tão assombrado pelo regime que teve que passar um tempo em exílio, teve problemas psiquiátricos, e hoje nega veementemente que fazia música de protesto (!!!). Sim, o mundo é injusto. Talvez o segredo para evitar a repressão seja não ser levado a sério. Um grupo paramilitar é uma ameaça real ao establishment. Um bando de maconheiros não parece tão perigoso.

E um grupo dos anos 1960, em particular, conseguiu sambar na cara da sociedade, causar mudanças de verdade e sair praticamente ileso: W.I.T.C.H. (witch significa bruxa em inglês).

W.I.T.C.H., Ativar!

OK, é inquestionável que a Bruxaria sempre foi um movimento de resistência. Mas historicamente, sempre foi muito mais uma coisa de resistir à repressão, um esforço individual contra a violência física, moral, social, sexual, religiosa sofrida por indivíduos.

Ativismo é diferente.

Quando o movimento feminista estava bombando, no final da década de 1960, surgiu a W.I.T.C.H., um braço separado desse movimento.

O que W.I.T.C.H. fazia

Resumindo de forma injusta, a W.I.T.C.H. era um grupo que lutava por causas de igualdade (social, sexual, etc.), usando a magia como sua principal ferramenta.

O primeiro de seus ataques ao Sistema a receber atenção foi o ataque mágico a Wall Street, coração financeiro da atual terra dO Grande Topete. Várias mulheres vestidas de bruxa, de forma bem caricata, saíram andando por Nova Iorque, amaldiçoando Wall Street. Naquele dia, a bolsa de Nova Iorque caiu treze por cento.

Treze. Por. Cento.

Você pode estar acostumado com as flutuações da nossa economia maluca de republiqueta de banana, mas acredite: a Dow Jones não costuma cair tudo isso.

Era isso. A W.I.T.C.H. havia conseguido uma façanha mágica, e muita gente quis entrar para a brincadeira e atacar a realidade consensual através de magia.

Abrindo as porteiras

Movimentos de transformação social com mais membros têm uma tendência a funcionar melhor. E por isso a W.I.T.C.H. decidiu abrir as porteiras para todas as mulheres que simpatizassem com a causa. Em um panfleto, elas escreveram:

Se você é uma mulher e ousa olhar para dentro de si mesma, você é uma Bruxa. Você faz suas próprias regras. Você é livre e linda. Você pode ser invisível ou notória em sua forma de aflorar seu eu-bruxa.

Então todo mundo (ou, pelo menos, toda mulher) podia ser uma W.I.T.C.H., mesmo sem ser bruxa de verdade. Tudo bem. W.I.T.C.H. continuou fazendo seus ataques à realidade consensual, usando a imagem da bruxa (ainda que caricatural) como um estereótipo e uma identidade. Unidas, paramentadas, e munidas de um plano de ação, aquelas mulheres eram invencíveis.

E os ataques continuaram funcionando. Porque, mesmo que nem todas as participantes fossem magistas, suas ações continuaram sendo profundamente mágicas, no sentido de manipular a realidade consensual, exercendo a vontade através de um cerimonial. Por mais que esse cerimonial não passasse de pessoas fantasiadas desfilando pelas ruas das grandes cidades e gritando palavras de ordem. Que diferença faz?

Outros Grupos de Ataque à Realidade

Apesar da W.I.T.C.H. continuar na ativa, hoje ouvimos falar mais de outros grupos ativistas que atacam a realidade. Podemos citar, por exemplo:

A Operação Mindfuck e a Sociedade Discordiana, que têm como objetivo diminuir a banalidade do mundo e abrir os olhos das pessoas comuns.

O Pastafarianismo, que foi criado para criticar o ensino religioso nos colégios, principalmente a visão do Design Inteligente (que de inteligente não tem muita coisa).

O DKMU, que tem a intenção de bagunçar a realidade consensual, por meio de uma rede de interligação mágica e ataques à realidade.

O Templo Satânico, que colocou uma enorme estátua de Baphomet em Detroit, e está causando chiliques na família tradicional americana.

Os Knights of Chaos (Cavaleiros do Caos), difundidos por Peter J. Carroll, com sua missão de combater magicamente a chegada do Apocalipse.

E, é claro, as bruxas que estão atacando O Grande Topete, Lana del Rey, bruxos nórdicos alt-right e a Golden Dawn.

Yes, We Can!

Minha posição política é um tanto complicada, mas pode ser resumida pela máxima Hay gobierno? Soy contra. Eu era contra a Dilma. Sou contra o Temer. E contra o Aécio, e contra o Lula, e contra o Moro, contra a direita, contra a esquerda, contra o centrão, contra o capitalismo, contra o comunismo, contra a ditadura, contra a democracia, e contra todo mundo que exerça ou possa vir a exercer poder político sobre mim, de uma forma ou de outra.

E, sendo a favor do contra, sou eternamente a favor de abalar as estruturas. E por isso acho tão incrível o que a W.I.T.C.H. fez nos anos 1960.

Os grupos de ativismo mágico de hoje têm seu valor e sua importância, mas eu sinto falta de algo realmente contundente. Algo como o que a W.I.T.C.H. fazia na época de sua fundação. O grupo continua ativo, mas não é mais a mesma coisa.

A guerra contra O Grande Topete me deu um fôlego de esperança. Mas e aqui no Brasil?

Fora Temer v2.0

Todo mundo adora falar Fora Temer. Nas manifestações (que sumiram), na televisão, na Internet. Até agora não adiantou nada. E tudo indica que não vai adiantar. Mas e aí? Você não acha que temos algumas lições a aprender com a W.I.T.C.H.?

Na verdade, já houve uma manifestação desse tipo aqui no Brasil. O bruxo Eric Satine fez um ritual em março desse ano para derrubar o Temer. Disse que ia dar resultado entre 70 e 72 dias.

72 dias depois, adivinha o que aconteceu? Apareceram as gravações do Joesley encontrando com o Temer na calada da noite. Foi o começo do fim. A parada funcionou.

E isso foi um bruxo solitário. Imagina só se todo mundo se unisse.

A Síndrome de Inferioridade do Brasileiro Médio

Pare por um minuto de pensar que só europeu e americano sabe fazer magia. O Brasil tem algumas das tradições mágicas mais eficazes no mundo. Isso é inegável, e é motivo de inveja para os gringos. Nosso sincretismo possibilita isso. E temos os números a nosso favor. São milhões e milhões de brasileiros insatisfeitos.

A exemplo da W.I.T.C.H., podemos tirar vantagem da superioridade numérica. Não precisamos nos limitar aos praticantes de magia experientes. Um ataque mágico pode ser muito mais do que só cerimonial.

Você não acha, por acaso, que os praticantes de magia do Brasil, unidos, somados a umcontingente ainda maior de não-praticantes solidários à causa, teriam uma grande chance de sucesso em um ataque mágico sincronizado, coordenado, contra o governo vigente? Não estou falando só de enfretar o Temer, que é uma pessoa só, e que assim que cair vai dar lugar para outro bandido. Juntos, podemos fazer diferença e mudar o Sistema. O executivo, o legislativo, o judiciário. Se um bruxo solitário conseguiu o que conseguiu, imagine todos nós, juntos.

Não tenho a pretensão de começar uma insurreição aqui e agora, e muito menos de comandar uma. Mas se você leu até aqui e se sensibilizou, saiba que você pode fazer alguma coisa.

Então faça. Se não fizer, saiba que você está sendo cúmplice do que acontece ao seu redor.

 

Nota: desde que este texto foi escrito, surgiu uma iniciativa mágica com a intenção de causar uma vergonha pública de grandes proporções ao Presitente em exercício até o Carnaval de 2018. Os sigilos deste trabalho estão disponíveis nestes links:

   Sigilo para vergonha do Presidente em PDF    Mesmo sigilo em JPG

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A Guerra Contra o Grande Topete

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