Wilhelm Reich: Cientista Maluco?

Wilhelm Reich: Cientista Maluco?

Wilhelm Reich foi um psicanalista austríaco que revolucionou a psicologia, a psicanálise e a ciência do século XX. Suas contribuições, no entanto, não estão restritas ao campo científico. Muitas das suas descobertas, difíceis de serem comprovadas, acabaram sendo desconsideradas, caindo na categoria genérica da “pseudociência”. E apesar de Wilhelm Reich não ter nenhuma afiliação conhecida com o ocultismo, seu trabalho corrobora linhas de trabalho usadas por místicos e ocultistas muito antes dele nascer, e inspira paradigmas mágicos não-óbvios até os dias de hoje.

Os Magos Vienenses

Em Bruxaria Apocalíptica, Peter Grey levanta um ponto interessante. A cena da psicanálise, que emergiu na Viena do começo do século XX, foi bastante mágica, embora os pioneiros psicanalistas não trabalhassem conscientemente com o oculto. Os sonhos, por exemplo, que são uma forma de magia praticada até pelos não magistas, receberam de Freud uma importância renovada. Talvez tenha sido por causa das muitas mudanças do mundo naquele momento: mortos nas trincheiras da Primeira Guerra, cocaína à venda nas farmácias, novas relações trabalhistas, etc. A razão não importa. O fato é que os psicanalistas de Viena estavam fazendo coisas grandiosas para o pensamento mágico, mesmo que não soubessem disso.

Wilhelm Reich estava inserido nesse contexto. Estudou medicina, mas desde antes de se formar já exercia a psicanálise. Chegou a trabalhar na clínica do próprio Freud, em Viena. Ao contrário de Freud, Reich propunha uma linha de trabalho em que o comportamento humano seria influenciado por fatores socioeconômicos tanto quanto pelos sexuais.

Reich começou a incomodar o seu famoso conterrâneo ao estudar os mecanismos psicológicos de controle de massa usados pelos fascistas e nazistas. Mesmo morando na época na Noruega, e não mais na Áustria, achou por bem se mudar para os Estados Unidos em 1939.

Teorias Malucas do Cientista Maluco

Os mecanismos de controle de massa e a influência dos fatores socioeconômicos na psique humana foram as áreas de pesquisa menos controversas de Wilhelm Reich. Talvez por se sentir mais livre nos Estados Unidos, Reich começou a desenvolver hipóteses cada vez mais fantásticas e controversas. E o mais interessante é que elas podem muito bem estar certas.

Uma Nova Visão do Orgasmo

É natural que, tendo trabalhado com Freud, Wilhelm Reich tenha desenvolvido um fascínio menos do que saudável pelo sexo como objeto de estudo. Mas suas conclusões conseguem fugir bastante do óbvio.

Em sua obra A Função do Orgasmo, Reich dissocia completamente os fenômenos do orgasmo e da ejaculação. Ele trata a ejaculação como um fenômeno puramente físico. Em contrapartida, o orgasmo seria algo muito mais profundo, de origem não só psíquica, mas também elétrica, energética. Além das libertações de energia, o orgasmo verdadeiro seria um processo de absoluta dissolução do ego. Curiosamente, isso está completamente de acordo com a sabedoria milenar dos Tantras hindus, e é uma das bases da magia sexual.

Vale também lembrar que foi Wilhelm Reich quem inventou o termo “revolução sexual”, uma expressão que defendia com unhas e dentes. Foi pioneiro na defesa da libertação sexual, do uso da pílula, do aborto e do divórcio.

Bíons

Ao chegar nos Estados Unidos, Wilhelm Reich começou a experimentar com os Bíons – uma forma intermediária de vida, entre o animado e o inanimado, que estaria presente em toda parte.

Em seus experimentos, Reich misturava protozoários com matéria orgânica e inorgânica. Ele então aquecia a mistura e fazia diversas medições (níveis de energia, imagens ao microscópio, etc.). Ele percebeu que os protozoários (obviamente mortos) davam origem a pequenas vesículas, que depois se combinavam para formar outras formas de vida, como por exemplo amebas. Nesse estágio intermediário, estas vesículas eram chamadas de bíons.

Em 1939, Wilhelm Reich descobriu uma energia radiante em bíons derivados da areia. Mais tarde foi descoberto que esta energia estava presente no solo, na atmosfera, na radiação solar e no organismo vivo.

 

Kenneth Grant – O Renascer da Magia, p. 38

Continuando seu trabalho com os bíons, Wilhelm Reich percebeu que assim como alguns tipos de bíons davam origem à vida, outros tipos causavam câncer e morte. Suas descobertas sobre o tema estão no livro Die Bione: Zur Entstehung des Vegetativen Lebens (Experimentos com Bíons sobre a Origem da Vida).

Cultura de Bíons em Pó de Ferro

Cultura de Bíons em Pó de Ferro

Orgone

O estudo dos bíons já era tido como controverso, mesmo que os bíons pudessem ser observados por instrumentos. Imagine então o incômodo causado quando Wilhelm Reich apresentou o conceito de Orgone, uma forma de energia biológica (portanto, sem existência física), visualizada como uma energia azul ou cinza azulada, que está presente em tudo.

Os paralelos do Orgone com o ocultismo são muitos – pode ser o que é chamado de aura, ou força vital, energia divina, ou qualquer outra coisa. Ou talvez tudo isso. Ou talvez não haja diferença.

O nome Orgone vem de organismo e de orgasmo. Reich descobriu o Orgone pela primeira vez ao injetar bíons em ratos, e mais tarde no próprio céu, usando um telescópio especial.  Logo começou a explorar os efeitos do Orgone, e chegou a resultados impressionantes.

Reich construiu caixas que chamava de Acumuladores de Orgone. As caixas funcionam como gaiolas de Faraday, evitando que energias escapem delas, e têm propriedades impressionantes.

O interior da caixa tende a se aquecer sem outra razão aparente. Plantas deixadas nessas caixas crescem mais rápido. Tumores regridem dentro dessas caixas. A coisa é séria.

Wilhelm Reich não demorou a pensar nas outras possibilidades de aplicação da energia do Orgone – não só curar doenças, mas também afetar o clima, e até usar essa energia como arma.

Acumulador de Orgones

Acumulador de Orgones

As Descobertas de Wilhelm Reich Fazem Algum Sentido?

É claro que os cientistas esperneiam. A chamada “ciência” de hoje em dia é tão intransigente com o que pode ser considerado aceitável que as descobertas de Reich provavelmente nunca serão cientificamente comprovadas. Mas isso não quer dizer que não sejam verdade. Talvez a ciência e seus métodos extremamente restritivos e bitolados estejam errados.

O fato é que as descobertas de Reich funcionam. Os Bíons estão lá, podem ser vistos, fotografados. Plantas crescem melhor dentro dos Acumuladores de Orgone. Doenças são curadas. Você já percebeu que Sean Connery parou de envelhecer há décadas? Pois é. Ele usa Acumuladores de Orgone. Se isso não for suficiente para a ciência validar as hipóteses de Reich, seu trabalho será sempre considerado pseudociência. E isso não faz diferença nenhuma.

Seu filho, Peter Reich, certa vez definiu seu pai nos seguintes termos:

Ele era um cientista do século XIX, não do século XX. Ele não fazia ciência como os cientistas de hoje. Ele era uma mente do século XIX que veio parar na américa do século XX.

 

Peter Reich

Duas plantas: controle e cultivada em Acumulador de Orgone

Duas plantas: Controle e cultivada em Acumulador de Orgone

O Sumiço de Wilhelm Reich

Uma teoria conspiratória vigente até hoje afirma que Wilhelm Reich foi tirado de circulação quando a publicação de suas descobertas passou a ser uma ameaça.

O artista, o ocultista, o cientista, estavam entre aqueles que se recusavam a baixar suas cabeças para superstições sacerdotais. Até hoje, essas seções da sociedade são olhadas com suspeitas, se não com animosidade, como um perigo para a sociedade. As pessoas sentiam no artista, no magista, no alquimista, uma certa qualidade indefinível, porém poderosa, que se opunha às suas confortáveis existências vegetativas. O perigo persiste. O cientista Wilhelm Reich foi eliminado pelas autoridades americanas, pois a conclusão lógica de suas descobertas implicaria na total derrubada da sociedade como a conhecemos hoje.

 

Kenneth Grant – Aleister Crowley e o Deus Oculto, p. 221

A real motivação para que Reich tenha sido tirado do ar é o único ponto em discussão aqui. É fato inegável que o governo americano realmente encerrou sua carreira.

A complicação começou quando Reich tentou ajudar uma menininha de 8 anos com câncer, submetendo-a a um tratamento em Acumuladores de Orgone. O pai da menina (que, diga-se de passagem, levou ela para fazer o tratamento) descobriu que Reich não tinha licença válida para exercer a medicina. Afinal de contas, ele se formou médico na Áustria, não nos Estados Unidos. E esse foi o começo do fim.

Em 1947, a FDA (a Anvisa americana) proibiu a venda de Acumuladores de Orgone e de livros sobre o tema, dizendo se tratar de fraude. Quem disse que não existe censura no Mundo Livre? Reich foi preso e mais de duas toneladas de livros seus foram queimadas pelo governo. Parece bastante com a Inquisição, não? Qualquer semelhança não é mera coincidência.

Wilhelm Reich morreu de “causas naturais” na cadeia, apenas alguns dias antes de conseguir sua liberdade condicional. Coincidência?

Ficha policial de Wilhelm Reich

Ficha policial de Wilhelm Reich

A Influência de Wilhelm Reich

Embora a obra científica de Wilhelm Reich não tenha sido reconhecida por grande parte da academia, ainda hoje há pesquisadores que dão prosseguimento à linha de trabalho iniciada com o estudo dos bíons e do Orgone. E mesmo aqueles que relegam essas descobertas ao ramo da pseudociência reconhecem a importância de sua contribuição como psicoterapeuta.

Além do próprio Reich ter sido um defensor da revolução sexual, seu pensamento influenciou diversos outros intelectuais, como William Burroughs, Michel Foucault, e até Robert Anton Wilson. No campo da ficção, Alan Moore teve a sacada brilhante de misturar a energia Orgônica com o mito Lovecraftiano em seu excelente Neonomicon.

Na área da magia e do ocultismo, há diversos místicos que dizem que trabalham com a energia Orgônica, com resultados que às vezes são convincentes, às vezes não. A formalização do processo de orgasmo estabelecida por Reich, porém, tem um impacto mais sério. É o elo entre a ciência contemporânea, os Tantras hindus, e om a ciência dos Kalas. Essas relações são melhor explicadas por Kenneth Grant, em Aleister Crowley e o Deus Oculto. A influência de outros psicanalistas, dos Surrealistas e dos Beats sobre a importância do sonho e do subconsciente na magia é abordada em Bruxaria Apocalíptica, de Peter Grey.

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