Inferno: Niflheim, Amenti e Gehenna

Cada um tem o Inferno que Merece: Niflheim, Amenti e Gehena

Nós, ocidentais, nascidos e criados em culturas hebraico-cristãs, temos uma tendência (ainda que não consciente) de pensar no Inferno como um lugar de tortura e sofrimento, cercado de fogo por todos os lados. No entanto, isso é absolutamente relativo. Até mesmo o Inferno cristão original não se parece com essa descrição. E até o Inferno de Dante Alighieri não segue essa linha do início ao fim.

Seria muita inocência pensar que outras culturas no mundo pensam no Inferno da mesma forma. Preparamos uma pequena coletânea de conceitos de Inferno que você talvez não conheça. Não cabem todos os infernos, é claro – continuaremos esta série com outros textos, fique de olho.

 

Niflheim

O Inferno está sempre cheio daquilo que tememos. Um povo que anualmente enfrente seu inimigo mortal tem todos os motivos para temê-lo.

No caso dos povos nórdicos, esse inimigo é o inverno. Vivendo em lugares onde as temperaturas chegam regularmente a extremos que nós, brasileiros, mal conseguimos imaginar; lugares onde o gado morre e as plantações secam todo ano, onde as águas dos rios param de fluir, é natural temer o inverno. E é por isso que o Inferno dos antigos povos nórdicos é gelado.

Niflheim não tem nada de fogo. Um dos nove mundos interligados pela Árvore da Vida, Niflheim é uma terra gelada, regida por Hel (filha de ninguém menos do que Loki), e assombrada por Níðhöggr, uma cobra gigante que se alimenta dos mortos. Sendo o mundo mais profundo e mais escuro, é também considerado o local onde Yggdrasil, a Árvore da Vida, finca suas raízes – eternamente roídas por Níðhöggr.

O Niflheim tem só uma coisa em comum com o nosso conceito de Inferno: aqueles que vão parar lá sofrem de agonias eternas.

 

Amenti

Amenti, o Inferno dos egípcios, bem como todo o resto de seus mitos, era cheio de simbolismos. E, curiosamente, o Amenti compartilha diversas características curiosas com nossas regiões infernais mais conhecidas.

Primeiramente, vale ressaltar que o Amenti é um inframundo, um lugar por onde se passa após a morte. Não é, necessariamente, um local de dor, tortura e punição. Era lá que ocorria o famoso julgamento da alma, em que o coração do falecido era colocado numa balança, e não deveria pesar mais do que uma pena. Isso não lembra um pouco o mito de São Pedro, portador das chaves do Céu?

Segundo algumas fontes, o governante supremo do Amenti é Set. Set costumava ser um deus celeste, que com o tempo mudou de características e passou a ser o regente do submundo, do lugar escuro. E seus atributos celestes passaram a ser atribuídos a Hórus. Qualquer semelhança com a Queda dos Anjos e com a Ascenção de Jesus não é mera coincidência.

Há outra particularidade do Amenti que nos faz pensar no nosso inferno: lagos de fogo. O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, entra em mais detalhes sobre o simbolismo do Amenti, a queda de Set e vários outros mitos da antiguidade egípcia.

 

Gehenna

Esse inferno tem uma particularidade curiosa: recebeu seu nome de um lugar real. Gehenna (ou Geena) era o nome de um vale próximo à antiga Jerusalém. Mas por que esse lugar seria identificado com o Inferno? A resposta é simples: fogo, é claro.

Nesse vale eram feitos sacrifícios de fogo ao deus Moloch. Nesses fogos ardiam sacrifícios humanos, e até mesmo crianças. Menos glorificado e impressionante, mas uma parte desse vale era também usada como um depósito de lixo, onde incinerações ocorriam de vez em quando.

Foi uma questão de tempo até pegarem o nome emprestado para designar a região ígnea infernal da antiga cultura hebraica. Talvez essa seja a verdadeira origem do inferno arquetípico que temos em nossas mentes.

Gehenna, ou She’ol, é também o nome que os demônios de Kalciferum, de Andrei Fernandes, usam para designar o lugar de onde vêm.

 

Em breve teremos novos textos sobre velhos infernos. Fique à vontade para colocar nos comentários alguma curiosidade que deixamos passar.

Os livros mencionados – O Renascer da Magia e Kalciferum – estão à venda na loja da Penumbra Livros.

Inferno: Niflheim, Amenti e Gehenna

 

Save