Entrevista com Lord A:. sobre o livro Deus é um Dragão

O livro Deus é um Dragão foi lançado recentemente pela Penumbra Livros.Trata-se da mais nova obra do Lord A:., rei da corte brasileira da Dinastia Sahjaza. A obra tem como base a Cosmovisão Vampyrica, vertente que já tem quase 50 anos de forma organizada, voltada para a espiritualidade, ligada ao paganismo e à bruxaria tradicional.

O Dragão, tal como o relâmpago ou o trovão, súbito, imprevisível e inegociável, aniquila todas estas ilusões, bem como os seus dogmas ou ideologias, que sempre adiam ou culpam outros pelo infortúnio. O Dragão é e sempre será um paradoxo, tal como o vampiro ou ainda como a noção de um Deus de cunho mais gnóstico, coexistindo entre opostos; diferentes, mas ainda assim iguais, feitos da mesma matéria, como parte e expressão de sua própria criação.

Os praticantes lidam com a escuridão e com o “Sangue” de forma simbólica. O primeiro livro de Lord A:. sobre o tema, Mistérios Vampyricos, vendeu mais de 12 mil exemplares. Deus é um Dragão já é um sucesso. Conversamos com o autor a respeito do livro, do arquétipo do Vampyro e muito mais.

Lua Valentia: Sobre o arquétipo vampyrico, é comum que o leitor médio tenha uma visão distorcida na qual o vampiro é um ser as trevas que mata pessoas e se alimenta de seu sangue. Qual é a relação entre o vampiro folclórico e o vampiro real pela sua Cosmovisão?

Lord A:. Sim é bastante comum e frequente, não dá para fazer muita coisa a respeito disso no final das contas! Só podemos mostrar ou falar de algo a quem está receptivo ou interessado em se educar e conhecer melhor aquele contexto ou tema. Felizmente há bastante gente que enxerga camadas, matrizes e espectros mais densos e sofisticados no Arquétipo Vamp. Costumo brincar e dizer que a maior parte das pessoas quando se metem a falar de VAMPS o fazem como quem passeia em um labirinto de espelhos ou numa câmara de ecos. “Diga-me o que pensa que é um Vamp e te direi quem tu és” brinco bastante com esta sentença nas últimas duas décadas.

Para a maior parte do mundo o VAMP simboliza um paradoxo, um estado entremundos, algo nem vivo e nem morto, uma ausência, um vazio ou um abismo e diante disso as pessoas sentem um vazio voraz e devorador no peito e isso expõem as camadas, matrizes e espectros de suas insuficiências, irrelevâncias e impotências diante de algo que NÃO é ou sequer corresponde ao que acham que deveria ser. Os fracos e mansos logo dizem que estão sendo drenados. Os que não saem da realidade espelho e da câmara de ecos alegam que são eles quem estão drenando os coitados. Já os mais aptos, afins e do “Sangue” saboreiam esta sensação de vertigem, um estranhamento que assinala a presença de algo que marca para sempre. Talvez como uma mordida que arranca pedaço ou perfura a alma da pessoa e desvela o vazio, a escuridão, o caos e a deidade enquanto sinônimos naquele momento. É uma jornada bastante alquímica, ou seja, onde diversas alegorias e metáforas ilustram estações e estâncias de um processo. Um totem para alguns, um tabu para outros e um Oroboros muito particular para quem sabe percorrer tal via noturna. Para nós, o imaginário/mundus imaginalis é o corpo dessa deidade negra e o lirismo e a vox poesis sua língua franca – você conseguirá lidar com seus estremecimentos e pulsões?

Tudo isso é meio pesado de se assimilar de uma vez só. É até uma resposta muito extensa para ser lida no ecrã do computador ou do celular. Mais gostoso de ler e saborear a complexidade dela nas páginas do livro Deus é um Dragão.

Os mais fortes, para nós isso é sinônimo de habilidade. Percebem essas lacunas que mencionei como aquilo que precisam trabalhar como um artesão e tornarem em algo que lhes seja útil. Aprenderem a restringir estes traços para aplicarem a si como um padrão de qualidade e maestria próprios. Isso se transforma em armamento e ferramenta, desvela suas medidas, seus alcances e o torna alguém mais centrado que sabe deixar o “eu” de lado para espreitar e absorver o novo. Alguém ciente daquilo que custa para os outros e para o ambiente e isso é força, é algo que se desvela nos hábeis – dá um certo verniz, distinção e maturidade silente como virtudes permite ver mais claramente a vida e as pessoas. Onde há isso inexiste ou pelo menos vem a se minar um negócio chamado ressentimento, algo bem parasítico, que as pessoas cultivam para justificarem sua vontade de agredirem terceiros pelo simples prazer da agressão e por não darem conta de si e de não serem atendidos nem pelo cosmo, nem pela natureza e menos ainda por quem está a sua volta – geralmente tratando os outros como coisas ou suas próprias extensões. Essa agressividade tosca se dá maquiando como a opinião ou por estarem agindo em nome disso, daquilo, do que ou de quem; da posse da verdade, da pureza, da higiene, da evolução. É uma espécie de intolerância que só expressa a própria impotência, não quer resolver, não quer trilhar ou construir nada. Quer apenas se afirmar e ocupar tiranicamente qualquer posto de destaque para obter gratificações emocionais baratas e efêmeras – e isso aí é bem tóxico mesmo. Só expõem a paranoia e a falta de maturidade que focaliza apenas revanchismos contra tudo que ameace seu território.

Lord A:. autografando seu livro Deus É Um Dragão

Valentia:  A Cosmovisão Vampyrica é extremamente prática. Por favor, descreva mais sobre a espiritualidade envolvida no dia-a-dia. Seria possível afirmar que o praticante busca a própria soberania?

Lord A:. Eu aprecio bastante a questão de soberania pessoal, pois isso convida a sabedoria dos próprios limites e limiares. O papel do Soberano Terrível é interessantíssimo e vem desde os indo europeus como um operador daquilo que por comodidade chamamos de magia. Gosto da ideia da Soberania entre as deusas celtas também. Soberania é o tal do saber até onde vai, até onde banca e fecha a conta; mas também o quanto pode se arriscar, quanto pode apostar e investir nas próprias ideias, práticas, relacionamentos e escolhas de vida. É saber que se aprende apenas pelo contraste, pelo desafio, pela pressão e pela oposição. “É a pressão que torna o carvão mais apto em diamante”, como dizia meu amigo Sérgio Pacca. A prática demanda aplicar e tirar lições em condições reais, ou seja, naquilo que vivemos, no que conquistamos, mantemos, protegemos e no que nos vinculamos e nos desvinculamos. Soberania é importante e isso é bem diferente do “Ego” dos orientalistas e dos mapeadores da mente modernos.

Valentia: Seu primeiro livro, Mistérios Vampyricos, foca-se mais na parte histórica do vampyrismo. Já o lançado recentemente pela Penumbra, Deus é um Dragão, também toca um pouco no assunto em relação ao desenvolvimento da Cosmovisão no país. Como se desenvolveu no Brasil?

Lord A:. Aquilo que nomeamos enquanto Cosmovisão Vampyrica ou ainda espiritualidade vamp vem se desenvolvendo ou organizando ao longo dos últimos cinquenta anos de forma mais pontual e direta. Seu principal foco vem de um contato e expressão mais direta do arquétipo/arché Vamp que remete alegoricamente a um Espírito Caçador e um Coração Feral responsável por aquilo que faz a vida andar e correr através dos tempos e reinos – pense num jogo entre caça e caçador, crise e necessidade, sagacidade e tenacidade e uma visão clara dos ciclos, estações e estâncias da vida. As expressões mais duradouras e contínuas deste arquétipo, vem do hemisfério norte e se mostram até os dias de hoje através da Dinastia Sahjaza sob um viés mais pagão. Também encontramos um pouco disso nos trabalhos da Order of Vampire de Michael Aquino e seu Temple of Set (para uma visão mais LHP). Particularmente a visão, ethos e práxis presente na Sahjaza e seu foco matrilinear evoca uma força irresistível e muito prática no trato com o indomável e o Outro Lado desde a metade dos anos setenta. Enquanto Cosmovisão e Espiritualidade trabalhamos com forças que já vem por aí e estiveram presentes e descritas por Pico DellaMirandola, Cornélius Agrippa, Dante Aligheri, Johanes Bureus, Chretién de Troyés, Wolfram Von Essenbach, Goethe e muitos muitos outros. Particularmente no Círculo Strigoi e na Família Sahjaza do Brasil nos vemos mais como exploradores e navegantes da Terra Incógnita, Outro Lado ou Mundus Imaginalis. Somos unidos pelo legado, irmandade e o cuidado da nossa Comunidade Vamp do Brasil bem como nosso Ethos e Práxis. Nosso foco está na prática pessoal, no labor, no oratorium e naquilo que conquistamos em nossas espreitas e caçadas que conjuntamente nos permitem desenvolvermos ainda mais aos nossos aqui no Selvagem Jardim e no etéreo.

Valentia: Como é a relação das cortes vampyricas com os brasileiros?

Lord A:. Temos bons amigos, parceiros e aliados na América do Norte, Canadá, Inglaterra, Portugal e Austrália. Por linhagem iniciática sou irmão do Rei da Cidade de New Orleans. Sou filho espiritual de Goddess Rosemary, a fundadora da Dinastia Sahjaza e atualmente depois de bem mais de uma década de serviço e prática fui nomeado King Prime ou Rei da Dinastia Sahjaza internacional o que oferece uma família estendida e um grande intercâmbio de práticas, sabedorias, conselhos e muito muito aprendizado com meus parentes do hemisfério norte. Nossa série de livros CODEX STRIGOI foi traduzida para o inglês e isso acelerou bastante este processo nas relações internacionais e hoje já vemos nossas influências se desenhando e prosperando por lá também.

Valentia: Por favor, dê detalhes sobre a estrutura do livro Deus é um Dragão em si.

Lord A:. Deus é um Dragão é uma obra que apresenta a Cosmovisão Vampyrica, suas nuances, suas marcas e oferece uma visão convidativa e amigável para quem tem o desejo sincero de saber mais e entender um pouco mais desta ampla espiritualidade do seu Ethos, suas Práxis e Peregrinação. De onde vem, sobre o que se trata, como se desenvolve e como se pratica. É uma obra focalizada na ação e na prática, que demanda transformar em realidade sonhos e saber como tornar em sonhos aquilo que deve pertencer a eles. Como é de se esperar ela serve para oferecer e deixar marcada a visão de quem trilha esta via e retificar conceitos equivocados amplamente arraigados no senso comum que confundem e misturam o VAMP com parasitas, encostos, obsessores, pessoas de índoles tóxicas. Também é uma obra que convida quem está descobrindo tudo isso a ser uma pessoa que não defende cegamente que VAMPS existem ao pé da letra como viu na cultura pop ou relatos arcaicos. E a ser alguém que não passa o dia em rede social atacando e dizendo que quem acredita em VAMP literal é tudo louco e que nada disso existe.

Os tópicos principais do livro são:

  • Além da Realidade Espelhada;
  • A implacável mordida pontiaguda da morte;
  • Deus e o Dragão: Uma grande novidade?
  • O transe semelhante a morte;
  • O jogo do Dragão: Peripécias de uma Antiga Serpente;
  • Além da pele e do corpo que largamos dependurado;
  • Aquela que segura a taça escraviza ou liberta;
  • Das profundezas aos céus de Saturno;
  • Através dos Mares de Vênus;
  • A Gargalhada de Hécate;
  • A Deusa e o Dragão

Outro ponto bacana é que em Deus é um Dragão, meus editores selecionaram alguns artigos complementares e que acabei revisitando e acrescentando ou atualizando bastante seus conteúdos e entraram como apêndices e são eles:

  • Estes Oito Anos
  • Do que aprendi com Lestat e Anne Rice
  • Desamparo e Anarquia são condições ontológicas da humanidade – não há nada para ser curado
  • Parasita bom é parasita afastado
  • Não vou te transformar em Vamp – não insista!
  • Abuso e Assédio Não são Coisas de Vamp
  • O “Sangue” está lá fora… Saida da Internet!
  • Políticos Parasitas
  • Max Stirner e seu egoísmo útil.

Um outro acréscimo que adorei foi a ajuda do meu editor Vinicius Ferreira para organizarmos juntos a ampla bibliografia que ampara e sustenta meus escritos e obras. O cuidado e a revisão da Juliana Ponzilaqua também foi bacana e harmonizou bem com as notinhas e acréscimos do Vinicius. O projeto gráfico e a diagramação ficaram incríveis nas mãos da Isabella Giordanno. E a capa criada pela Lívia Andrade e o Marcos Keller até hoje me deixam sem palavras… Adorei demais!

Noite de autógrafos na Estação Madame

Valentia: Qual é a relação entre a escuridão e seus aspectos regeneradores que você aborda no livro?

Lord A:. Ao menos na minha obra a escuridão e horizonte são sinônimos! Tire o “eu” da jogada e receba o presente da escuridão que é o imprevisível, o indomável e a coragem de apostar, investir e deixar a ilusão de controle de lado – perceba a graça do dragão que é deixar as coisas se alinharem e irem para onde devem ir e irremediavelmente são aonde deveriam estar. Acho isso sofisticado e infelizmente algo bastante em falta nas vertentes do paganismo praticado no Brasil – mais preocupado em decorebas, incensar imagens e idolatrias do que investir tempo e energia em uma obra e trilha mais interior. A escuridão tal como a natureza tem polaridade feminina e basta fecharmos os olhos que impressões, sonhos e devaneios mexem com o olhar da alma e com sensações corporais do relaxamento á tensão. Isso é adoravelmente caótico. Se você acha que sabe o que esperar “Ela” não estará lá mas se você tem suas investiduras, marcas e se lança com alguma coragem rumo ao seu abraço deletério, receberá seu abraço, acolhimento e visões. Irá enxergar mas se não der conta do que vier você tomará como pesadelos mortais. A matéria ou energia escura está bem ali ela pode lhe renovar, refrescar, curar e integrar ou pode ser algo tóxico, depende de como você escolhe se aproximar. Alquimistas e chineses falam de Ying, de água, gelo, terra e do escuro como ausência. O útero e o caixão são escuros, nossos olhos fechados enquanto dormimos nos levam ao escuro. Todas as religiões, religiosidades e espiritualidades que se prezem neste mundo dependem do mistério do vôo noturno para manifestarem o sonho lúcido e o que nomeiam hoje de viagem astral. É por meio dela que enxergamos as distantes luzes estelares, no jargão do ocultista Kenneth Grant isso era uma alegoria para contemplarmos as dimensões e estados irradiados e secretados por nossos chakras. Astrólogos na antiguidade cavavam fossas para se deitarem e contemplarem as estrelas, quando astrologia e astronomia eram sinônimos. O próprio Arcano maior da Estrela sob uma leitura alquímica marca o processo de albedo ou citrinitas depois de um longo nigredo.

Valentia: O livro aborda muito a simbologia do Dragão. Como o Dragão é visto na Cosmovisão Vampyrica?

Lord A:. Para nós o Dragão vem do termo grego que delineia Clara Visão. Talvez o Dragão seja o Logos, visto que este pronunciou luz e calor e isso parecem vistosas chamas. Pode ser que o Dragão seja a Crisis e esta seja a verdadeira criadora do mundo. Ao longo da vida podemos despertar como na famosa história da caverna de Platão. Um pouco mais velhos podemos perceber o mundo como faziam os gnósticos e concluirmos que deus ou deusa podem não serem tão bonzinhos como pregam seus agentes e procuradores. A mãe natureza dá a vida mas também dá o câncer. A linda antílope é devorada vorazmente por uma leoa que se refestela com o sangue na sua mandíbula. Existem processos e o dragão é uma alegoria e um símbolo poderoso para compreendermos os ciclos, sazonalidades e afins. Lúcifer era chamado de Dragão Vermelho entre os Vlachs, pagãos eslavos. Oroboros dos alquimistas devorando aquilo que enxerga a frente e se nutrindo e recriando daquilo que já foi é algo poderoso. O próprio “Sangue” seja como uma metáfora ou uma alegoria para o “Rubeus” alquímico toca nosso imaginário de diversas maneiras. Poimandres no Corpus Hermeticum me é particularmente caro, assim como Tiamat e muitos outros que descrevo nas páginas de Deus é um Dragão. Mas a pegada da “Clara Visão” dos processos e ciclos em múltiplas camadas, matrizes e espectros, com diversos graus de compreensão em cada uma delas (do mais ao pé da letra aos mais arquetípicos) nos é mais aguerrida, prática e funcional do que meramente incensar imagens e estátuas ou a figura dos romances fantásticos e deixar de fazer a lição de casa e arrumar o próprio quarto – esperando uma salvação vinda de fora.

Noite de autógrafos na Estação Madame

Valentia: Por favor, explique melhor o conceito de Selvagem Jardim que você desenvolveu?

Lord A:. A expressão Selvagem Jardim descreve muitíssimo bem e transmite quase que imediatamente o que os cabalistas nomeiam como Lilith nas Qliphoths e sua contraparte, contraste ou superfície chamada de Malkuth nas Sefirots. É algo bem bate e pronto que não abre espaço para idealizações – é belo mas pode e vai lhe devorar. É bonito mas você irá definhar. Evoca uma visão típica dos Eddas sobre o equilíbrio delicado que mantem o mundo (ou jardim do meio) e todas as trocas necessárias. Odin e os seus enfrentam os gigantes mas também precisam deles e por aí vai. Descreve bem a beleza e a imponência de um leão nas savanas mas que ele irá devorar a carne das antílopes e por ai vai. È como um passeio que desperta a estranheza e o sublime no jardim italiano de Bromazzo. Também demonstra a estética (enquanto sensorialidade ou algo sentiente) como a principal lei desta realidade, isso remete claramente a Anne Rice que foi uma das romancistas que melhor dialogou e expressou o arquétipo vamp em todas estas décadas com personagens fantásticos como Lestat e muitos outros. Eu citaria George Bernanosi, quando ele diz “o acaso é feito a nossa exata imagem e semelhança” como algo bem próximo da maneira como vejo o que vivemos no selvagem jardim.

Valentia: Como o ocultista deve lidar com a crise e o que a Cosmovisão pode nos ensinar em relação a isso?

Lord A:. Eu gosto muito de algo chamado como “obra inacabada” evoca maturidade e que apenas controlamos uma parte das coisas da vida. No ocultismo e em algumas linhagens é associada ao Norte como o lugar da escuridão ou do horizonte. Aquilo que não veremos no final das contas. Terra Incógnita na renascença e Mundus Imaginalis nas belas páginas do muçulmano Ibn Arabi. Maquiavel explicava sobre uma sensação ou algo parecido quando falava sobre “Virtus” (Virtude ou Habilidade adquirida) e “Fortuna” (vamos nomear como sorte, mas é algo mais complexo) e do equilíbrio necessário entra ambas para mantermos a soberania e negociarmos sua manutenção em diversos sentidos. Claro que nos tempos de Maquiavel tal diálogo era mais violento. Dependendo da época do ano (geralmente no inverno) eu vejo muito mais a Crisis do que o Logos como criadora da realidade. Os gregos falavam de Ananké ou a Necessidade como uma força a ser temida e reverenciada, aquilo que nos dá a fome para que nos levantemos e saiamos atrás do alimento. No Bhagavad Gita, os hindus pontuam como a vida demanda vida para se manter. Nos dias de hoje Steven Jobs nos recomendava nos mantermos famintos por conhecimento e por sabedoria. As “Angels” da luxuosa marca de lingeries Victoria Secret também dizem que fazer sessões fotográficas com fome lhes dão mais sex appeal e volúpia. Eu diria que anorexia também. Mas de volta a Crisis e Ananké (Necessidade) penso que ambas são quem verdadeiramente regulam os célebres Eros e Thanatos, caros a espiritualidade mediterrânea e também a Freud. Penso que o espírito da ausência ou o Vazio oferecem um vislumbre da deidade e nosso trato e como reagimos diante dessas potências e postedades expressas em situações do cotidiano delineiam nossa aptidão e habilidade.

Todo magista, bruxo, bruxa, druída, médium, xamã, sacerdotes e sacerdotisas sempre tiveram que lidar com a realidade não-ordinária e a realidade ordinária. Entre ambas, sempre existiu um risco de se cair na idealização e numa “romantização” do mundo social ou ainda da presunção de tornar o sagrado a sua imagem e semelhança e fazer uso do mesmo para atender expectativas sociais ou ânsias de resultados. Tudo isso se mostra nas insuficiências de cada um diante do mesmo vazio que falamos anteriormente. Na Cosmovisão Vampyrica a Fome de Alma ou Sede de Espírito, lidam abertamente com estes temas delicados – mas que já passaram do tempo de nos escondermos deles ou deixar a conversa e sua apreciação nas mãos de outros. O tal espirito caçador e o coração feral lidam explicitamente com isso – e penso que Deus É um Dragão irá levar seus leitores e leitoras a uma lida mais integra com tudo isso.

Valentia: Como a pessoa interessada pode se iniciar nesta prática?

Lord A:. O primeiro passo é e sempre será o despertar e isso não é ficar consciente ou aceitar alguma ideologia ou coisa similar. É algo pessoal e intransferível. É algo mais sensorial, uma curiosidade e uma atração irresistível por todo este contexto Vamp – onde geralmente as mulheres compreendem e lidam muito melhor e aparentemente tudo isso lhes é muito mais natural e prático. Na cidade de São Paulo e nos seus arredores temos os eventos da REDE VAMP que há 16 anos oferecem uma sólida comunidade com festas, saraus, passeios culturais, ritos e muito mais e formam o Halo e a Corte de Antares e Amantkir, primeva e soberana na América do Sul. Porém, o Brasil é um pais de dimensões quase continentais embora tenhamos integrantes em diversas cidades ainda há muito para ser feito neste sentido. Nosso portal www.redevamp.com seus livros e nossos grupos internéticos oferecem informação e formação de qualidade para todos do fashionismo a cosmovisão. Sendo assim, o passo mais sensato é sair de casa e comparecer a eventos e encontros Vamps que oferecemos. Venha, conheça pessoas, converse, olhe, espreite, troque ideias e conviva. Pode ser que seja para você. Se você carregar este legado daemônico em si você irá se descobrir e estará rodeado de pessoas com uma vivência e experiência em comum. Para muita gente é só algo cultural, gostam da música, do charme e dos papos e isso é bom. Para outros é algo mais espiritual e aí convêm orientação, nutrição e há uma via de aprendizados que lhe oferecem maior acesso a esta nova realidade e poder gozar mais da vida e da natureza depois de provar o fruto proibido – e da imortalidade. A serpente do Éden ou da Kundalini – e quem sabe o Dragão, nos termos mencionados no meu livro – já cumpriram sua parte do acordo, mas o trabalho, refinamento e o desvelar é todo seu.

Para fazer parte do Círculo Strigoi, uma discreta sociedade dedicada a Cosmovisão Vampyrica, Ocultismo e o Paganismo é preciso preencher um formulário de admissão no site oficial se aprovado você será convidado a adquirir e estudar a coleção CODEX STRIGOI realizar seus ritos, práticas e entregar sete monografias, uma para cada volume e sendo bem sucedido e dedicado receberá um convite para o período de escudeiro ou escudeira no regimento interno.

Uma dica importante para quem mora longe de São Paulo é tomem cuidado com grupos internéticos fora da alçada da Rede Vamp, não confiem em pessoas que prometem transformações, que não mostram a cara, que não tem história nenhuma e menos ainda realizações pontuais na Comunidade Vamp do Brasil e ficam apenas fazendo joguinhos de só vou transformar os escolhidos e que envolvem até menores de idade nisso tudo. Tomem cuidado e sempre que possível nos consultem e informem atividades assim.

Valentia: Sua majestade é o rei da sociedade Strigoi. Sua coroação ocorreu no ano passado. Poderia nos falar um pouco mais sobre a festa Carmilla e como foi passar por esta experiência?

Ah 2018 foi um ano e tanto e é impossível para nossa Comunidade Vamp do Brasil falarmos dele sem mencionarmos aquela bela edição de Carmilla Noite de Gala Sombria na bela Mansão Hasbaya. Carmilla é um evento que celebra anualmente a fundação e atividade da Comunidade Vamp do Brasil em todo seu esplendor e vastidão criativa; também é onde comemoramos o Dia dos Vampiros. É uma festa que atualmente ocorre em uma mansão com mais de 150 anos e se inspira nos eventos de Dark Fantasy como os organizados pela fotógrafa Vionna Ielegems na Bélgica ou na cidade de Veneza. Também se inspira nas festas das Cortes Vampyricas Norte-Americanas. Ele se inicia com um jantar temático e onde assistimos apresentações de bailarinas, bailarinos e ilusionistas. Oferecemos homenagens e brindes as pessoas que mais realizaram pela comunidade e lembramos os amigos e amigas que partiram. Depois abrimos as portas de um vasto salão de baile subterrâneo e lá boa música, drinks, petiscos e apresentações maravilhosas agitam nossa pista de dança. E em algum momento temos um cerimonial da Corte e do Círculo Strigoi. Em 2018 recebemos o delegado internacional da Dinastia Sahjaza que veio incumbido da missão de realizar a cerimônia da coroação da gente e transmissão dos títulos, investiduras e responsabilidades. Mas com um detalhe, nós (eu e Xendra) éramos os únicos que não sabíamos disso e junto com o regimento interno do Círculo Strigoi eles combinaram e organizaram aquela cerimônia fantástica. No sábado 10 de Agosto de 2019 temos novamente CARMILLA NOITE DE GALA SOMBRIA LÁ NA MANSÃO HASBAYA e você pode adquirir os últimos convites no site oficial.

Valentia: Quais são os eventos que você está organizando para este ano de 2019 e como o público pode se manter antenado?

O lugar é o site www.redevamp.com se inscrevam em nossos mailings e redes sociais. O ano de 2019 está sendo um ano bastante desafiador em muitos sentidos, a melhor alegoria que temos é de que estamos explorando um novo continente. O evento CARMILLA NOITE DE GALA SOMBRIA na bela Mansão Hasbaya agora é uma celebração anual, marcando sob o signo do Leão (mas para nós o Leão da Meia-Noite que ruge chamando na grande hora todos para despertarem) acontece no sábado 10 de Agosto e toma bastante do nosso tempo na sua produção. Os últimos convites estão a venda no site oficial pelo valor de R$65 e quem comprar até o dia 23 de Julho ainda ganha R$320 em cupons de desconto que podem ser utilizados em toda ampla rede de parceiros, lojas e marcas que apoiam e apreciam a Comunidade Vamp do Brasil. Isso foi algo inédito e que permitiu criarmos uma rede de prosperidade e de apoio mútuo a diversos criadores de conteúdos, artesãos, designers, criadores de trajes de época, lojas, ourives e muito mais. Dá um sentido maior aos próximos passos do Halo e das Cortes de Antares e Amantkir.

Neste ano também tornamos semestral nossos passeios a bordo da Limousine Negra chamados The Black Limousine Ride que visita lugares assombrados, marcados por histórias reais de amores trágicos, relatos de bruxas, do santo ofício, santos populares, sociedades secretas e cemitérios ocultos no concreto da bela metrópole. Temos datas agora na proximidade do Dia dos Namorados e também no Halloween. O passeio parte de um lindo rooftop bar que permite contemplar o skyline avermelhado da região da Avenida Paulista e do Parque do Ibirapuera.

Também mantemos alguns treinamentos presenciais ligados ao Mistério do Vôo Noturno, Adulrunas, Dante Aligheri e o Hermetismo, Perceval e o Romance do Graal em nossa Academia na Avenida Paulista. A partir de setembro teremos um evento mensal formato sunset party exclusivo para os signatários da Rede Vamp na recém-inaugurada London Culture SP, um espaço cultural e galeria de artes no bairro da Aclimação. Isso é só o começo ainda.

Também formalizamos uma parceria muito bacana com o célebre Madame Underground Club que ampliou seu espaço anexando os armazéns colados na sua lateral e ocupam quase um quarteirão inteiro. Lá temos mensalmente aos sábados a #REDEVAMPNIGHTS um formato mais básico de evento com expositores e discotegagens temáticos. Aos domingos mensalmente temos o #CINEMADAMEBYLORDA que estreia no 4 de Agosto as 20h. O BAZAR REDE VAMP também retornará as atividades no segundo semestre de 2019. Estamos apoiando o mega evento HORROR EXPO na Expo Center Norte em Outubro que será a maior feira e convenção do terror e do fantástico da América do Sul.