Foco e disciplina: o lado da Magia do Caos que ninguém quer vender para você

Magia do Caos é liberdade, criatividade e subversão. Todo mundo já ouviu isso até certo ponto e repete este discurso, aqui me incluo. “Faço o que quero porque nada é verdadeiro, tudo é permitido”. De fato, voe, gafanhoto. Porém deixa eu te contar um segredo, esta liberdade toda, seria, na verdade, fruto de décadas de leitura árdua e de prática assídua, que finalmente te daria a base necessária para você criar seu próprio sistema mágico, um dos principais objetivos do Caos.

Até chegar lá, querido, você estaria submetido à linha dura da IOT, ou os Iluminados do Amor e da Morte, o que inclui hierarquia. Mesmo que você não fosse aceito na Ordem e fizesse isso de forma independente, este seria o caminho mais sábio a tomar. Você até poderia criar seu sistema mágico antes disso, porém chegaria à conclusão de que lhe faltam as ferramentas emocionais e ocultas mais básicas. Este foi meu caso.

Mas eu prefiro te vender a ideia de que você pode fazer o que quiser, sabe por quê? Porque na realidade eu não me importo com sua trajetória mágica. Mal te conheço. Quero te vender um produto. No caso, Magia do Caos. E ele vem bem embalado, amorfo, então você interpreta e adapta como quiser. Mas digamos que eu tenha me cansado um pouco do método enlatado. Então vamos cair na real.

Enquanto alguns escravos servirão, este texto é realmente para a minoria que está preocupada em fazer um bom trabalho. Existem muitos com boa intenção, que querem se tornar magos potentes, mas lhes faltam basicamente duas coisas: a noção de que isto de fato é possível, e de que isso vem com um trabalho diário gritante.

Veja bem, sendo muito honesta, o leitor médio mal compreende como fazer uma novena para um servidor público, como poderia compreender o que é a Jihad do Caos? Estaremos sempre estagnados no básico, sem perspectivas para Magia do Caos avançada? Teremos sempre que nos esconder em Ordens exclusivas ou poderemos construir um trabalho público de fato embasado?

Com poucas iniciativas realistas no Brasil, fica fácil cair no discurso da bagunça, quando o livro básico da Magia do Caos exige pelo menos 30 minutos de prática diária para preparação do não-pensamento, que é a condição importante para os transe mágicos. A verdade é que, resumidamente, se o sujeito não consegue alcançar o estado de transe mágico, como conseguiria realizar magia?

Como poderia se considerar um Mago do Caos aquele que nunca praticou nenhum método de concentração, que nunca conseguiu chegar ao status de gnose, que acredita que está tudo bem porque faz como quer, quando quiser e se quiser? Cuja única inspiração são os grupos de Facebook? Sem dominar o básico do básico que é o Liber Null, será mesmo um magista do Caos?

Para além disso, a obra de Peter Carroll é muito mais extensa, e de fato não totalmente disponível em Português, o que dificulta o acesso para a maioria dos brasileiros. E não é porque ele é o fundador da IOT ou o principal Mago do Caos em atividade que devemos acatar tudo o que ele diz ou fazer tudo ao pé da letra. Longe de mim transformar o Caos numa escola totalitarista.

Entretanto, creio que precisamos aprofundar nosso vocabulário para além de sigilos e servidores, a fim de que possamos entender o sacerdócio oculto que justamente vem com a responsabilidade do Mago do Caos, o que inclui entender engenharia social, significar a vida e a morte, fornecer uma estrutura para tudo que existe etc.

O Mago do Caos que só deseja pegar carona no sistema alheio, que foge do confronto mágico e que tem preguiça de estudar, na verdade é apenas um agente passivo, um mero cliente daqueles que vendem seus paradigmas. Será sempre um leitor, um ouvinte, nunca de fato um praticante. E por mais lucrativo que seja adoçar o ego de tais sujeitos, o desafio surge de fato quando a criatividade de fato se faz presente.