Dia das mulheres: oremos em nome de todas as torturadas e abusadas

Hoje não é um dia feliz. Entre as rosas, cartões e tapinha nas costas, o dia das mulheres é para relembrarmos uma história de sangue, dominação e injustiça. Mulheres apagadas da história, mulheres torturadas após serem acusadas de bruxaria, mulheres diminuídas para um papel irrelevante mesmo dentro do ocultismo. Maria de Naglowska foi uma das principais Babalons da história, mas quem sabe seu nome?

Marie Cury descobriu o rádio e polônio. Hedy Lamarr inventou a tecnologia wireless, a mesma que você está usando agora para se comunicar sem fio. Rosalind Franklin descobriu a estrutura do DNA. Francisca de Sande, brasileira, gastou todas as suas economias para auxiliar os doentes de febra amarela na epidemia de 1608, é considerada a primeira enfermeira do país.

Façamos uma retrospectiva do dia hoje no Brasil. Empresas se apropriaram da data numa tentativa pífia de aquecer o mercado. A prefeitura de Curitiba mandou instalar cílios nos semáfaros como uma forma de homenagem. Oi? O MC Donald’s deu feriado para os funcionários homens e anunciou o fato numa placa, comentando que as unidades estavam funcionando apenas com equipes femininas. Inacreditável.

Muito além dessas iniciativas grotescas, há uma história terrível de injustiça que precisa ser relembrada. Enquanto milhares de pessoas foram caçadas, a maioria mulheres, como bruxas, gerando mais de 50 mil mortes até o século XVIII, os linchamentos sempre aconteceram.

Num dos mais recentes, Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, foi acusada de sequestrar crianças para práticas de bruxaria. Teve sua inocência comprovada após a morte, mas já era tarde demais. Magdalena Francisco, na Guatemala, também foi acusada de bruxaria. Foi espancada e morta a pedradas. Em 2012, María Verenice Martínez, na Colômbia, foi despida e queimada após ser acusada de praticar bruxaria contra outras mulheres.

O caso de María Martínez é ainda mais curioso porque também revela outro problema endêmico: como certas mulheres odeiam e desprezam o próprio feminino, colocando-se numa postura contrária à própria natureza, praticando assim atos de injustiça e crueldade contra si mesmas. Outros casos também são preocupantes, como o de Dhegani Mahato, que foi acusada de bruxaria por um xamã, e Adolfina Ocampos, que foi afogada por indígenas após a morte da sua irmã.

Mas não é apenas a violência física que marca a história das mulheres. A simbólica também está presente nos mais diversos contextos. Para cada 5 ocultistas homens, a maioria cita apenas uma mulher: Helena Blavatsky. Sua obra de fato é de extrema importância, mas precisamos aprender a celebrar outras mulheres.

Moina Mathers foi a primeira iniciada na Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn) e a Imperatrix de  “Alpha et Omega”. Marie Laveau é conhecida como “Rainha dos Vodus”. Maxine Sanders é uma conhecida sacerdotisa da Tradição Alexandrina da Witchcraft. Maya Deren, cinegrafista, tornou-se também uma sacerdotisa do Vodu e também produziu muito sobre o assunto, incluindo o documentário Divine Horsemen: The Living Gods of Haiti (1953).

É preciso que mais mulheres se unam no propósito de divulgar a Arte, o sagrado feminino e as práticas libertárias, a fim de que tenhamos um futuro mais igualitário, balanceado e próspero. Não é possível produzir sem a ação do feminino do dia-a-dia, assim como precisamos compreender o masculino.