PSYOP: O Diabo

PSYOP: O Diabo

Um dos personagens mais icônicos de toda a cultura ocidental é o Diabo, em suas inúmeras manifestações. Suas diversas imagens inspiram medo, respeito, amor, reverência, repulsa – a emoção em si não importa, e dificilmente duas pessoas se sentirão exatamente da mesma forma a respeito desse conceito. Mas a ideia que queremos apresentar aqui é a possibilidade de que o Diabo seja a maior PSYOP (Operação Psicológica) de todos os tempos.

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Breaking News: O Diabo é uma Invenção da Igreja!

Aviso: estamos aqui usando de ironia. Não é novidade que o Diabo foi inventado pela Igreja. Mas vale a pena recordar em poucas palavras como isso foi feito.

Entre os séculos IV e XII, o Cristianismo saiu de seu berço no oriente médio e tomou de assalto a Europa. O processo de converter os fiéis de crenças anteriores ao próprio Jesus histórico não seria simples, isto estava claro. Então a Igreja lançou mão de uma estratégia infalível: o medo.

Demonizando os Deuses dos Outros

Apesar da figura do Diabo dogmatizada pela Igreja não existir na bíblia na forma que a conhecemos hoje, era necessário encontrar um opositor para Deus. Servir a Deus é bom e vai te levar para o paraíso. Servir ao inimigo de Deus (e, portanto, ao Diabo) é sinônimo de condenação ao fogo eterno do inferno.

Partindo dessa premissa, a Igreja resolveu “demonizar” (bom uso da palavra, não é mesmo?) todas as crenças desses povos europeus. Os deuses chifrudos (Cernunnos, Pã, Fauno, etc.) emprestaram seus chifres para a imagem do Diabo.

Politizando o Diabo

Essa demonização não servia apenas para dizer que os Deuses antigos agora tinham virado o Diabo. Também foi uma poderosa arma de influência política.

O Tinhoso também recebeu atributos não-humanos, muitas vezes de animais. Exemplos disso são gatos e bodes, que ficaram vinculados com a imagem do Demônio. Essa acabou sendo uma forma de prejudicar a imagem dos Judeus e outros grupos contrários à Igreja da época.

A famosa barbicha do Diabo também tem origem similar: os árabes foram temíveis oponentes militares da Europa Cristã por séculos a fio. Nada melhor do que colocar no Diabo, o Grande Inimigo, uma característica marcante do inimigo que potencialmente pode causar o colapso da “civilização”.

PSYOP e Lavagem Cerebral

E assim, o Diabo acabou se tornando um símbolo de tudo aquilo que deve ser desprezado, evitado e combatido pela sociedade. Um mecanismo de controle através do medo.

Os camponeses não se reuniam mais nos bosques, longe dos olhares das autoridades. Todo mundo sabia que é exatamente nesse ambiente que se encontra com o Diabo. E ninguém quer ser confundido com um adorador do Diabo.

E essa rejeição à figura do Diabo – um resumo de tudo que a Igreja considerava errado – resultava, obviamente, na aceitação de Deus e da Igreja.

A verdade é que o Satanás personificado sempre foi o emissário não-oficial da Igreja, o Santo Bode Expiatório que assusta o povo e o leva ao abraço da Igreja.

 

Nicholaj de Mattos Frisvold – A Arte dos Indomados, p. 33

E foi assim, através da invenção do Diabo e da cultura de medo que o circunda, que a Igreja conseguiu manter ordem social por séculos a fio, mesmo em um cenário terrível, de fome, doença, guerras, morte e opressão.

Podemos dizer, sem sombra de dúvida, que o Diabo foi a maior operação de PSYOP da história. Mesmo tendo sido inventado muito antes da ideia de PSYOP.

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O Diabo Hoje

Hoje em dia a religião organizada está pegando um pouco mais leve do que há alguns séculos. Não porque ficou boazinha (muito pelo contrário!) mas porque a Igreja não tem mais tanta influência. O Diabo não mete mais tanto medo. É claro que as carolas de igreja ainda o temem, e que traficantes de Jesus destroem terreiros por aí, mas a figura do Diabo não tem força suficiente para controlar as massas.

No entanto, é claro que as massas ainda são controladas. O Diabo vem mudando de forma ao longo do tempo – ganhando chifres, feições de bode, barba, etc. – e hoje em dia assume uma forma completamente nova, menos ligada à religião (que perdeu muito de sua relevância) e mais ligada à ideia do Inimigo, do Opositor.

No lugar da Igreja, entram o Estado e as corporações. São eles que guiam nossos medos hoje em dia. A história se repete, então os “Árabes” (que hoje são uma personificação do terrorismo) continuam sendo o Opositor. Mesmo que o terrorismo mate, em números absolutos, muito menos gente do que o bacon, por exemplo.

As Drogas – ah, as temíveis drogas! – são as grandes vilãs da Sociedade. São elas que estragam a Juventude. A verdade é que elas são ameaças ao status quo, porque têm o potencial de abrir os olhos de quem as usa. E, portanto, está claro que devem ser combatidas. Também se tornaram um aspecto do Opositor.

Não importa quem esteja governando, o grupo político rival (seja a esquerda em regimes de direita, ou a direita em regimes de esquerda) é sempre o motivo das coisas estarem dando errado. Sempre!

Enfrentando o Sistema de Braços Dados com o Diabo

Esses são apenas alguns exemplos para ilustrar que o Diabo contemporâneo não está necessariamente vinculado a valores religiosos. O novo Diabo é tudo aquilo que atenta contra “a moral e os bons costumes”, contra a “família tradicional brasileira”. Contra o Sistema.

O Diabo sempre foi aquele que abre opções. Aquele que abre caminhos. Aquele que expande a consciência e mostra novas possibilidades. E normalmente essas revelações estão em rota de colisão com o Sistema.

O Diabo revela um caminho estreito floresta escura adentro.

 

Peter Grey – Bruxaria Apocalíptica, p. 87

Essa relação com o Diabo, mesmo na época em que ele carregava um significado religioso mais forte, nunca foi necessariamente um sinônimo de ir contra o Bem, contra Deus. Sempre foi sinônimo de seguir seu próprio caminho, por mais escuro que seja, por mais que isso envolva nadar contra a correnteza – seja essa correnteza a Igreja ou o Estado.

E isso não mudou, mesmo milênios depois da invenção do Demônio.

Enfrentar o Sistema é abraçar o Diabo, e seguir o caminho escuro que ele aponta. Obedecer o Sistema é aceitar a enganação, essa PSYOP gigantesca e milenar que nos é imposta. Cabe a você – e só a você – decidir o que quer fazer com seu livre arbítrio.

Bruxaria Apocalíptica, de Peter Grey, apresenta um manifesto inflamado, na melhor tradição dos anarquistas “de raiz”, e expõe como a Bruxaria – magos, bruxas, ocultistas, etc. – têm o direito e o dever de não assistir de braços cruzados à dominação e à decadência de nossa sociedade.

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