Cinco Livros de Ocultismo que Enganaram Muita Gente

Cinco Livros de Ocultismo que Enganaram Muita Gente

Você pode não levar o Discordianismo a sério (o que provavelmente é uma demonstração de sabedoria). Mas não dá para negar que o Quinto Mandamento do Discordianismo é uma pérola de sabedoria. Ele diz:

V – Um Discordiano é proibido de Acreditar Naquilo que Lê.

 

Principia Discordia, p. 0004

Esse é um bom ensinamento para se levar para a vida. Ao ler jornais, revistas, livros, anúncios, posts do Facebook, mensagens no grupo da família no Whatsapp, etc., existe uma grande probabilidade de que você se depare com pouquíssimas verdades, e muito mais mentiras descaradas ou meias-verdades. Portanto, não acredite em nada que você lê.

Os jornais, que a cada dia que passa assumem posições políticas cada vez mais descaradas, são uma prova constante de que é possível narrar o mesmo fato com dois pontos de vistas completamente diferentes. E muitas vezes não se trata de uma questão de opinião. É mau-caratismo, mesmo, desonestidade, conduzindo o leitor a acreditar em um ou outro lado.

Se é fácil assim colocar viés em fatos inegáveis do cotidiano, imagine como é fácil distorcer as coisas quando o assunto é mais intangível, como no caso do ocultismo.

Nesse território, é difícil achar consenso a respeito do que quer que seja. As opiniões de diferentes autores dificilmente estão alinhadas. Quando essas diferenças são fruto de opiniões honestas, não tem problema. Mas às vezes livros inteiros são escritos com base em premissas deliberadamente erradas, com a intenção de defender uma posição – seja ela política, mágica, social, etc.

Separamos para vocês cinco livros de ocultismo que estão intimamente ligados a alguma grande mentira:

O Necronomicon

O terrível Necronomicon foi revelado ao mundo através das páginas dos contos fantásticos de H. P. Lovecraft. Há muita controvérsia a respeito da existência real do Necronomicon. Mas o fato é que Lovecraft declaradamente inventou um livro fictício como um artifício para sua ficção, e escolheu para ele o nome Necronomicon.

Décadas depois da morte de Lovecraft, vários Necronomicons começaram a aparecer – um diferente do outro. Mesmo que algum desses seja, de fato, o verdadeiro, isso significa que todos os outros são falsos.

Entre os Necronomicons mais famosos, podemos destacar o de Simon, que clama ser um grimório perdido de magia suméria, e o de Tyson, que tenta se adequar ao universo fictício criado por Lovecraft.

Há ainda quem defenda que o verdadeiro Necronomicon existe, sim, mas não na forma de um livro como nós normalmente imaginamos.

   saiba mais sobre os vários necronomicons

Necronomicon

Book of Shadows, de Gerald Gardner

O Book of Shadows, ou Livro das Sombras, de Gerald Gardner, tem uma história controversa.

Gerald Gardner foi um dos principais responsáveis por reestabelecer a prática da bruxaria na Inglaterra do século XX, depois da suspensão da lei que proibia a bruxaria, vigente até 1951. Sua missão não era fácil: estabelecer uma nova roupagem para uma prática milenar, de forma que servisse como uma espiritualidade interessante para os tempos atuais. Essa empreitada ficou conhecida como Wicca Gardneriana. Gardner teve um enorme sucesso com sua Wicca, mas talvez tenha lançado mão de alguns expedientes escusos.

Seu Book of Shadows é o livro que condensa o núcleo das práticas de sua nova doutrina. Até aí, nenhum problema: é natural escrever um livro para transmitir uma mensagem com o mínimo de distorção para o máximo de pessoas.

Algo de Podre no Reino da Inglaterra

Mas há duas grandes controvérsias envolvendo o Book of Shadows. Primeiro, Gardner dizia ter recebido o livro de um coven secreto e misterioso que atuava há muito tempo, e que o seu conteúdo era uma expressão de práticas ancestrais que quase foram esquecidas ao longo dos séculos.

Aplicando um pouco de senso crítico, é difícil acreditar nessa origem misteriosa do Book of Shadows. Mais do que a ausência de evidências que corrobora a história de Gardner, qualquer estudo mais profundo comprova que as práticas do Book of Shadows são, sem sombra de dúvida, contemporâneas, contendo vários elementos de doutrinas como o rosacrucianismo, Golden Dawn, entre outras.

Em segundo lugar, há ainda a possibilidade de que Gardner não tenha nem mesmo criado os rituais principais da Wicca. Há toda uma linha de conspirólogos que clama que foi, na verdade, Aleister Crowley o verdadeiro criador dos rituais Wiccanos. Mas isso é assunto para outro dia.

Resumindo, o conteúdo do Book of Shadows é perfeitamente válido. Mas a história por trás dele é bastante questionável, o que coloca em cheque a confiabilidade do autor.

Em A Arte dos Indomados, Nicholaj de Mattos Frisvold fala sobre este período de criação das religiões neopagãs na Inglaterra, e explora um personagem pouco conhecido deste mesmo cenário: George Pickingill, que também clamava ter recebido conhecimentos antigos de uma linhagem misteriosa de bruxas.

   compre a arte dos indomados na penumbra saraiva cultura amazon martins fontes

Book of Shadows

Les Mystères de la Franc-Maçonnerie Dévoilés

Apesar de muitos dos “mistérios” da Maçonaria hoje em dia estarem facilmente disponíveis na Internet para quem tiver paciência de procurar, essa organização ainda pode se dizer uma sociedade discreta. Embora muita gente de fora pense que sabe o que acontece dentro dessa organização, pouca gente realmente sabe o que se passa dentro das Lojas.

Agora imagine como eram as coisas no século XIX. A Europa – e em particular a França – vivia um período de renovado interesse pelo ocultismo. A Golden Dawn florescia, Allan Kardec sistematizava a doutrina espírita, Eliphas Levi publicava seu clássico Dogma e Ritual da Alta Magia. Tudo ia bem.

Entra Léo Taxil

Até que um gaiato chamado Léo Taxil apareceu com uma história curiosa. Ele era um ex-Maçon que estava disposto a revelar os segredos dessa sociedade antiquíssima. E publicou todos estes segredos em Les Mystères de la Franc-Maçonnerie Dévoilés.

Les Mystères contava várias mentiras escancaradas, mas na época não havia nenhuma forma para o cidadão comum validar ou negar aquelas informações. Então tudo foi amplamente aceito como verdade. Entre as maluquices publicadas por Taxil estavam a ideia de que a Maçonaria era um culto onde ocorriam abusos sexuais de mulheres e adoração ao Diabo, na forma de Baphomet.

Acontece que Léo Taxil era uma fraude. Já havia sido preso por conta do conteúdo de um periódico que publicava. Aos poucos as pessoas foram percebendo as inconsistências de Les Mystères, e a mentira ficou insustentável. Taxil chegou a dar uma espécie de coletiva de imprensa, assumindo que tudo aquilo era uma invenção da cabeça dele. Mesmo assim, muitas pessoas se negaram a acreditar, e o mito persistiu.

A história desse hoax do século XIX é contada em mais detalhes em O Livro de Baphomet, de Julian Vayne e Nikki Wyrd.

   compre o livro de baphomet na penumbra saraiva cultura amazon martins fontes

Les Mystères de la Franc-Maçonnerie Dévoilés

Malleus Maleficarum, o Martelo das Feiticeiras

O Malleus Maleficarum, também conhecido como O Martelo das Feiticeiras, foi muito mais uma ferramenta política do que um tratado religioso.

O livro foi escrito na forma de um manual de caça às bruxas para a Igreja Católica. Vamos deixar de lado, por um momento, o propósito questionável. Considerando que um manual desses fosse escrito a sério, seria de se esperar que contivesse informações realistas sobre como identificar bruxas e como combatê-las.

Porém, não foi assim que o Malleus Maleficarum foi escrito. Heinrich Kraemer, um de seus autores, era um misógino maluco que já estava há anos em uma missão pessoal de caçar bruxas. Mas nenhuma das acusações que ele fez contra mulheres (que hoje veríamos como inocentes) foi aceita pelas autoridades locais da época.

Frustrado por não conseguir condenar nenhuma daquelas mulheres que ele detestava (o tal Kraemer tinha sérios problemas), ele decidiu escrever um livro que serviria para legitimar suas maluquices. A Igreja da época acabou comprando a ideia, e adotando o livro como manual para outros inquisidores.

Mas sua base não é doutrina religiosa: são as frustrações de um psicopata maluco. E isso faz com que ele seja um dos livros mentirosos que mais causou estrago na história.

   saiba mais sobre o malleus maleficarum

Malleus Maleficarum

O Livro de Oera Linda

Talvez O Livro de Oera Linda seja a obra menos conhecida nessa lista, mas tem uma grande importância histórica.

Na década de 1860, veio a público um manuscrito bastante curioso. O livro era escrito em Frisco Antigo – uma língua protogermânica – e dizia conter conhecimentos ocultos que cobriam o período de 2.000 A.C. até o século IX D.C. Isso por si só já seria bastante estranho, considerando a história do norte da Europa, ocupada por povos que não tinham o hábito de fazer registros em papel.

Mas não demorou até que a Academia chegasse à conclusão unânime de que o livro era uma fraude. Em 1879 já não havia dúvidas quanto à sua (falta de) autenticidade. Mesmo assim, seu conteúdo não foi deixado para trás. Havia ali justificativas ocultas para defender toda uma agenda política.

O livro defendia, por exemplo, que os povos germânicos eram descendentes diretos de Atlântida, o continente submerso, e que constituíam uma raça superior. Você já deve imaginar onde isso vai parar.

O Livro de Oera Linda não tardou em ser assimilado pelo Partido Nacional Socialista da Alemanha, na década de 1930. Chegou a ser chamado de “Bíblia Nórdica”, e a ser usado como livro de referência para justificar o projeto de eugenia dos nazistas. E, como uma mentira contada mil vezes acaba se confundindo com a verdade, o livro acabou virando uma das “evidências” para justificar o injustificável.

O resto é história.

O Livro de Oera Linda

Veja Também:

7 livros obrigatórios na sua coleção de ocultismo

Cinco Livros de Ocultismo que Enganaram Muita Gente