Os Djinns e os Demônios da Goetia

Os Djinns e os Demônios da Goetia

Os Djinns estão presentes no folclore árabe desde tempos pré-islâmicos. Ficaram conhecidos no ocidente na forma dos caricatos “gênios da lâmpada”, que aparecem em tantas histórias. Mas as coisas não são tão simplórias. Os Djinns podem ser muito mais sinistros do que personagens da Disney – podem ser os verdadeiros Demônios da Goetia.

Os Djinns e os Gênios

Apesar da semelhança entre as palavras e seus significados, as palavras Djinn e Gênio não possuem uma origem em comum. Uma das possíveis origens da palavra Djinn é a palavra persa Jaini – um tipo específico de espírito perverso feminino. Outra possibilidade é o semítico Jnn, que significa esconder. Portanto, os Djinn podem ser tanto uma extrapolação de um tipo de demônio perverso como os “escondidos”, aqueles que não são normalmente percebidos pelos sentidos.

Gênio, por outro lado, vem do latim Genius. Os Genii (plural de Genius) eram considerados espíritos guardiões pelos romanos. Em A Arte dos Indomados, Nicholaj de Mattos Frisvold aponta um subgrupo dos Gênios romanos: os Genii Loci. Estes são os espíritos guardiões de um determinado local, como por exemplo uma casa.

A primeira vez que Djinn foi traduzido para uma língua ocidental como Gênio foi em uma tradução para o francês de As Mil e Uma Noites, datada do século XVIII.

Mas isso não quer dizer que não haja uma relação entre essas duas classes de entidades.

Os Gênios da Lâmpada

Originalmente, os Djinns eram retratados como criações divinas, da mesma forma que os humanos. Nós fomos feitos a partir do barro, e os Djinns a partir do fogo. A terceira categoria de seres sencientes criados por Deus seriam os Anjos. E assim como os humanos, os Djinns foram criados com livre arbítrio. Portanto, não são inerentemente bons nem maus.

E como os gênios foram parar dentro das lâmpadas, afinal?

Existem três hipóteses principais. A primeira é que os Djinns, coletivamente, em algum momento desagradaram Deus, e alguns foram aprisionados por Ele. A segunda é que o próprio Rei Salomão conseguiu domá-los e aprisioná-los. A terceira vem das Mil e Uma Noites, onde alguns Djinns (mais especificamente, Marid) já aparecem aprisionados nas lâmpadas, ou garrafas.

Lidando com o Djinn da Lâmpada

Há várias histórias e piadas por aí envolvendo gênios e lâmpadas, e em quase 100% delas a pessoa que liberta o Djinn acaba se dando mal.

Não é para menos. Depois de passar anos, décadas, séculos confinado, é natural que o Djinn esteja com raiva quando sai de sua prisão. Curiosamente, muitas vezes a pessoa que o liberta escreve sua própria sentença de morte, pedindo as coisas erradas.

Em outras ocasiões, o Jinn mata aquele que o libertou assim que concede o terceiro desejo. Uma coisa sábia a se fazer, ao receber três desejos, é guardar o terceiro para ordenar o Djinn a retornar ao seu confinamento. Vale a pena deixar um pouco de lado a cobiça em prol da segurança.

A relação do mestre com o Djinn é sempre complicada. Há uma dívida de gratidão e uma ameaça constante no ar. O Djinn opera exatamente como um servidor mágico, e as mesmas regras se aplicam. Mais especificamente, os Djinns têm um comportamento muito similar ao dos demônios da Goetia.

Os Djinns e a Goetia

O número 72 está ligado tanto aos Djinns quanto aos demônios da Goetia. Os mitos dos Djinns dizem que eles foram criados antes dos homens, e habitavam a Terra sob o controle de 72 reis. A 72ª surata do Alcorão se chama “Al Jin” – e aparece em algumas traduções como “Os Gênios”. 72 é também o número de Gênios (ou espíritos, ou demônios) listados no Lemegeton. São os 72 gênios tradicionais da Goetia.

O Rei Salomão, de fato, aparece em narrativas árabes. O próprio Alcorão menciona (27:17) uma situação em que Salomão se defronta com os Djinns, e relata até mesmo a servidão dos Djinns perante Salomão (34:14). Uma lista de nomes de Djinns compilada no Kitāb al-Fihrist aponta diversos nomes que aparecem também no Testamento de Salomão.

No conto original de Alladin, o personagem título parte em busca de uma lâmpada mágica contendo um Djinn. Um feiticeiro lhe empresta um anel mágico para se proteger na jornada. Vamos recapitular. Indo buscar um Djinn, contido em um recipiente. Usa um anel mágico para se proteger. Soa familiar?

A relação entre os Djinns e os Gênios da Goetia é apenas coincidência? Ou será que Djinns são apenas espíritos naturais, sem nenhuma relação com essas criaturas?

Em A Arte dos Indomados, Nicholaj de Mattos Frisvold explora melhor a relação entre os Djinns e os Genii Loci romanos, e detalha os tipos destes gênios – Ifrits, Marids e Shaitans.

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Imagem: Jeff Easley

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