Múmias: Os Sigilos da Morte

Múmias: Os Sigilos da Morte

Milênios antes do suposto nascimento do cristo histórico, os egípcios já fazia obras faraônicas (com o perdão do trocadilho), tinham conhecimentos matemáticos inacreditáveis e conheciam mais astronomia do que os europeus da idade média. Mas talvez o campo de estudo mais aperfeiçoado por este povo tenha sido o da magia. Seus métodos podem ser considerados antiquados do ponto de vista contemporâneo, mas eles certamente não faziam nada sem motivo. Com seus costumes funerários um tanto megalomaníacos, será que os egípcios acreditavam que as múmias de fato voltariam à vida algum dia?

A Etimologia das Múmias

É claro que é difícil fazer afirmações precisas a respeito da origem de palavras milenares. Mas é possível fazer algumas suposições. Por exemplo, é razoável crer que uma palavra se origine de outra que tenha ocorrido antes dela, em uma região próxima, e que tenha sentido similar.

É o que ocorre com múmia. De acordo com Kenneth Grant, em Aleister Crowley e o Deus Oculto, civilizações africanas anteriores aos egípcios já usavam um termo similar: d-mammu. Uma tradução livre de d-mammu seria efígie de sangue.

O d-mammu é um longínquo ancestral do boneco vodu. Ele vinha na forma de um objeto associado com o desejo mágico. O primeiro passo era carregá-lo com a vitalidade ou poder do sacerdote. Isso podia ocorrer, por exemplo, com sacrifícios de sangue. Em seguida, era queimado, enterrado, lançado ao mar, pendurado em uma árvore – era, enfim, esquecido. E só então passava a cumrprir seu objetivo.

Dessa forma, podemos dizer que o d-mammu funcionava de forma muito similar aos sigilos mágicos. Um objeto era carregado de sentido, em um certo nível subconsciente; depois carregado com energia e vínculos mágicos; e, finalmente, esquecido.

Mas o que isso tem a ver com as múmias?

O Pós-Vida dos Egípcios

É evidente que nem todo egípcio que morria tinha direito a uma pirâmide como lugar de último descanso – esse privilégio era reservado aos faraós, detentores de grande poder e enormes riquezas. Mas mesmo as camadas menos privilegiadas da antiga sociedade egípcia tinham crenças e costumes funerários curiosos. Múmias menos sofisticadas, e até mesmo animais domésticos mumificados, não eram raros no antigo Egito. Isso demonstra uma grande preocupação com o pós-vida.

A crença central deste povo era que ocorria uma transformação da alma no submundo (Amenti). Após a morte do corpo físico, a alma passava por um julgamento. O coração era colocado em uma balança com uma pena, e não deveria ser mais pesado do que ela. Se passasse por essa etapa, a alma podia seguir em sua jornada de transformação.

O Mito de Osíris

O mito da ressurreição de Osíris (que serve como base para os mitos dos deuses solares) exemplifica muito bem o conceito egípcio de pós-vida. Osíris é morto e desmembrado por Set. Ísis encontra seus pedaços e reconstitui o seu cadáver. Mas Osíris só volta à vida quando seu Falo é reposto por Hórus.

Nesta narrativa, Set representa o esquecimento. Set é um deus da noite, da escuridão, da lua nova, do inverno. E só o Falo (a Vontade) é capaz de sobrepujar a escuridão do Esquecimento.

Gato Mumificado

Múmias: os Sigilos Definitivos

E é aí que entram as múmias como mecanismos para a ressurreição.

Entenda-se aqui que a ressurreição que os egípcios almejavam não tinha nada a ver com reencarnação, nem com múmias voltando a andar por aí como zumbis. Tinha a ver com a jornada da alma pelo Amenti (o submundo), passando para um outro estágio. Não havia pretensão de voltar à vida como nós a conhecemos. O objetivo era seguir em frente.

As múmias eram, portanto, os sigilos definitivos, o d-mammu por excelência. Todas as etapas da operação do sigilo e do d-mammu encontram paralelos na múmia: criação de um objeto simbólico, carregamento com sentido e vitalidade, e, finalmente, o esquecimento.

Quando os antigos egípcios embalsamavam o sigilo antes de despachá-lo para o submundo, todos os traços da personalidade (ou seja, as qualidades reconhecíveis) eram obliteradas. A “morte”, simbolizada pela múmia em suas faixas de uma mesmice uniforme e indiferenciada, era seguida pela ressurreição em Amenti.

 

Kenneth Grant, Aleister Crowley e o Deus Oculto, p. 145

Os temas da morte no antigo Egito são debatidos por Kenneth Grant em Aleister Crowley e o Deus Oculto. Os conceitos básicos do funcionamento dos sigilos são abordados no clássico Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll.

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