Grant Morrison vs. Alan Moore

Grant Morrison vs. Alan Moore – A Guerra dos Magos dos Quadrinhos

Talvez você não conheça as histórias bizarras que rodeiam Alan Moore e Grant Morrison, dois dos maiores roteiristas de quadrinhos de todos os tempos. Mas se você se deu o trabalho de clicar em um link para ler essa matéria, você com certeza conhece algumas de suas obras. Mesmo que nunca tenha lido os quadrinhos, você deve ter assistido Watchmen, ou ouvido falar de Os Invisíveis – a lista completa é grande demais, nem vamos entrar nessa. Se você não tem a menor ideia de quem são essas figuras, a Wikipedia está aí para isso.

[Grant Morrison e Alan Moore na Wikipedia]

As Semelhanças

Há várias semelhanças entre os dois. No começo de suas carreiras, os dois trabalharam na revista 2000 A.D. Ambos fizeram sucesso mais ou menos na mesma época, e sua diferença de idade não é tão grande. Ambos trabalharam em projetos autorais, e também em super-heróis convencionais (leia-se Lanterna Verde, Batman, etc.). São britânicos, roteiristas excelentes e autores de obras polêmicas. E os dois são magos – de verdade.

As Diferenças

Há também motivos para se detestarem. Para começo de conversa, Morrison é de Glasgow, na Escócia, enquanto Moore é de Northampton, Inglaterra. Você pode achar que é tudo a mesma coisa, fica tudo na mesma ilha, é tudo Reino Unido. Mas existe uma rixa entre ingleses e escoceses mais ou menos parecida com a dos brasileiros e argentinos.

Os dois meio que rejeitam a indústria dos quadrinhos de heróis, mas Moore se distanciou totalmente, enquanto Morrison continua flertando com ela de tempos em tempos. E Morrison aceitou uma honraria da Rainha da Inglaterra – um nível abaixo de virar Sir. E é claro que isso é motivo para Alan dizer que Grant “traiu o movimento”.

Mas a treta de verdade começa com acusações de ambos os lados. Alan Moore diz que ajudou Grant Morrison a chegar onde chegou, e que em troca, Morrison copiou toda a sua obra. Morrison, por sua vez, afirma aos quatro ventos que a obra de Alan Moore não é lá essas coisas, e que foi o próprio Moore já andou copiando histórias dos outros por aí.

Diferentes Escolas de Magia

As imitações não se limitam às obras, estendendo-se às vidas pessoais dos dois. É claro que os dois não faziam muito esforço em esconder isso na temática de suas obras, mas Alan Moore “saiu do armário”, revelando ser realmente um mago, em 1993. Pouco tempo depois, Morrison fez o mesmo.

Apesar de ambos serem magos, os dois seguem escolas totalmente distintas.

Grant Morrison se define como um magista do Caos, o que dispensa muitas explicações. Inclusive, ele considera que Os Invisíveis é uma espécie de hipersigilo, e alguns de seus experimentos mágico-caóticos ficaram relativamente conhecidos.

Alan Moore é muito pouco ortodoxo – ele se define como um mago hermético, mas em suas obras há várias referências a Thelema. Ele se diz adorador de Glycon, uma pseudo-divindade romana. Além disso, é profundo admirador e conhecedor de Austin Osman Spare – o avô da Magia do Caos. Parece haver aí uma certa inconsistência, mas não temos dúvidas de que o Mago de Northampton criou para si uma mistura única de escolas e conceitos que funciona muito bem para ele.

Para não correr o risco de distorcer demais as visões dos distintos senhores, deixamos rapidamente a palavra com eles:

Todo mundo faz magia o tempo todo, de formas diferentes. “Vida” + “significância” = magia.

 

Grant Morrison

 

Para mim, toda criatividade é mágica. As ideias surgem no vazio da sua cabeça, e terminam como uma coisa material, como o livro em suas mãos. Esse é o processo mágico.

 

Alan Moore

Francamente, não vejo tantas diferenças na visão essencial dos dois. Mas as ideias de cada um sobre magia certamente são mais complexas do que um texto como esse pode comportar.

Obras Primas

Há uma obra de cada que podem nos ajudar a entender melhor o pensamento destes mestres: Promethea, de Alan Moore, e Os Invisíveis, de Grant Morrison. Vamos falar um pouco do que cada uma contém, sem entrar no mérito da qualidade de cada uma como obra de arte. (Ambas são sensacionais, e é difícil não colocar as duas no seu Top 10 depois de lê-las com carinho.)

Promethea é uma aula de hermetismo. O leitor completamente leigo termina a leitura sabendo bastante sobre Qabalah, Tarô, Thelema, gnosticismo, Goetia, e outros tantos tópicos clássicos. Mas é isso: uma aula.

Os Invisíveis (que, por sinal, foi lançado antes – quem copia quem?) não é uma aula, e não se propõe a ensinar nada. Mas usa todos os elementos fundamentais de Magia do Caos, teoria da conspiração, alienígenas, etc. A intenção da obra é transformar, magicamente, o leitor, e não ensinar magia para ele. O próprio Grant Morrison diz que a obra teve reflexos na realidade, mais especificamente sobre ele mesmo.

Um dos personagens principais, King Mob, foi criado à sua imagem e semelhança, como uma versão idealizada do autor. E enquanto escrevia a obra, ele percebeu que o que acontecia com Mob refletia em Morrison. A ponto de os dois terem quase morrido em uma mesma época. Criador e criatura se misturando. Olha aí a carinha dos dois:

King Mob e Grant Morrison

Não tem como dizer que isso não é mágico.

Mas até aí, estamos falando só de trocas de farpas entre dois ex-amigos, e algumas obras que podem ter excedido um pouco o nível de inspiração e entrado no plágio.

A Zoeira Máxima

Mas existe uma coisa que não é nem inspiração nem plágio: a paródia. E Grant Morrison teve a cara de pau de lançar um quadrinho zoando com aquela que muitos consideram a obra-prima de Alan Moore: Watchmen. Você pode não ter ouvido falar, mas a revista se chama Pax Americana. Um comparativo para você entender:

Watchmen vs. Pax Americana

Está tudo aí. O homem azul superpoderoso, o cara com máscara de pano e chapéu, o super-herói com baixa autoestima… E Grant Morrison conseguiu lançar sua obra pela própria DC Comics, e usando personagens nem tão desconhecidos, como o Besouro Azul! Mas talvez o detalhe mais impressionante seja o tamanho da obra. Pax Americana tem apenas uma edição, contra as 12 de Watchmen. E consegue contar uma história completa dentro dessa limitação.

Talvez seja até positivo que eles não se deem bem. Aparentemente um nutre pelo outro aquela rivalidade saudável – não destrutiva, mas construtiva. Discórdia no sentido positivo, de inspiração; desejo de fazer sempre mais e melhor.

Quem você acha que é o Grande Mago dos Quadrinhos?

<edit> Esquecemos de dizer que esse tema é uma inspiração/tradução livre pedida por nossos leitores. A matéria original você pode ver, em inglês, no site da Break. Perdão pelo vacilo! </edit>

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