Animais Fantásticos: A Esfinge

Animais Fantásticos: A Esfinge

Algumas criaturas lendárias são representadas com diferenças por povos distintos. Muitas vezes, o nome da criatura difere de uma cultura para outra. Isso é natural, considerando as diferenças linguísticas. É também comum aparecerem algumas diferenças entre essas representações. Mas a essência, em muitos casos, permanece a mesma. Isso pode ser atribuído ao intercâmbio cultural entre civilizações. Isso ocorre naturalmente, por exemplo, devido ao comércio entre povos. Mas é possível defender que essas lendas, na verdade, apenas representam alegoricamente um fato inegável, inerente à condição humana. A Esfinge é uma dessas criaturas que aparece em diversas culturas distintas. Será que isso é apenas fruto de contaminação cultural? Ou seria a Esfinge uma representação instintiva de um conceito inegável?

Ao compararmos as representações que cada povo tem para a Esfinge, é possível reparar as diferenças e semelhanças.Esfinge Grega

As Esfinges Gregas

Como ocorre com tantas outras criaturas da mitologia grega, a paternidade da Esfinge é disputada. Algumas versões consideram que é filha de Ortros com Equidna, Quimera ou Ceto. Outras a colocam como filha e Tífon e Equidna. Nenhuma dessas versões está certa nem errada. Mas uma coisa é inegável: independentemente de sua ascendência, a Esfinge grega é um ser Ctônico. Ou seja: é uma daquelas divindades subterrâneas, mais antigas que os famosos deuses olimpianos.

A representação grega tinha cabeça e seios de uma mulher, corpo de leão e asas de águia. Ficou famosa por seu enigma:

Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?

Aquele que não fosse capaz de acertar a resposta para este enigma era então estrangulado pela Esfinge. Na verdade, seu nome vem daí: sphingo quer dizer estrangular, em grego.Esfinge Egípcia

As Esfinges do Egito

Talvez as esfinges mais famosas para nós, ocidentais do século XXI, sejam as egípcias. Na verdade, o bombardeio de culturas misturadas que recebemos faz com que confundamos aspectos das gregas com as egípcias. E, de fato, essas duas representações não são tão diferentes assim.

As esfinges egípcias não são criaturas ctônicas, e sim divindades ligadas à sabedoria. Esteticamente, a principal diferença é o fato de que não possuem asas. O resto do simbolismo se mantém similar ao das suas contrapartes gregas.

 As Mantícoras Persas

A primeira grande diferença das Mantícoras para as esfinges é o que elas fazem com as pessoas. Enquanto as Esfinges são estranguladoras, as Mantícoras são engolidoras. A palavra se origina de uma expressão persa que significa engolidora de homens.

MantícoraA constituição corporal destas criaturas também é um tanto distinta. As Mantícoras possuem corpo de leão, cabeça humana, asas de morcego, (às vezes) chifres, e rabos reptilianos. Temos aqui uma troca das asas de ave por asas de morcego, e a adição do detalhe do rabo de lagarto ou dragão.

As Lamassus da Assíria

Na Assíria antiga, as esfinges tomaram a forma de Lamassus. Estas são consideradas criaturas celestiais, e eram consideradas protetoras. Por esse motivo, era comum encontrar grandes esculturas de Lamassus nas entradas de palácios e templos.

LamassuAs Lamassus se destacam principalmente pelas diferenças estéticas na escultura assíria. Mas na verdade, os elementos básicos são muito similares aos de costume: cabeça humana, corpo de boi ou leão, e asas de águia.

Guardiãs do Conhecimento

As esfinges são quase sempre consideradas guardiãs. Guardiãs de locais, de conhecimentos, do submundo, não importa. Tanto que, em tempos mais recentes, elas vem sendo usadas arquitetonicamente por alguns ramos da maçonaria para representar exatamente isso.

Mas que conhecimento é esse que elas guardam, afinal?

As Partes da Esfinge

Todas as criaturas citadas são inegavelmente similares. O corpo é sempre de um animal quadrúpede (leão ou boi), asas normalmente de águia, e cabeça humana. Em alguns casos, características reptilianas e de morcego estão também presentes. Tantas semelhanças não podem ser só coincidência. Mas qual será o sentido por trás desse simbolismo?

Essas partes animais representam partes de nossa própria consciência. O boi, por exemplo, representa o instinto de sobrevivência, o nível mais baixo de consciência, a vida vegetativa. O leão está ligado à emoção, ao territorialismo do predador mamífero. A águia, por sua vez, está ligada ao intelecto e às formas mais elevadas de raciocínio. Quando presentes, os aspectos reptilianos representam os pensamentos mais instintivos de todos, o raciocínio amoral, reptiliano.

E os aspectos humanos?

É aí que está a grande sacada. Percebe que a cabeça é sempre humana? Isso tem motivo. Todas as outras partes da esfinge estão ali para mostrar que a consciência do ser humano não é uma coisa plana e simplória. Do ponto de vista evolutivo, nossos cérebros foram acumulando funções e modos de operação, desde que deixamos o lodo primordial. Já passamos por nossa fase reptiliana, pela sobrevivência fundamental, pelo territorialismo…

E em nossa atual fase evolutiva, chegamos aos elevados níveis de consciência com os quais estamos familiarizados. (Isso não quer dizer que não tenhamos mais estágios evolutivos pela frente!) Mas não deixamos para trás nossos cérebros passados. E é isso que a Esfinge verdadeiramente representa. Esse é o verdadeiro enigma da Esfinge. E você sabe qual é a resposta para o enigma da esfinge grega?

A Esfinge é a divinização do bestial, e, portanto, um Hieróglifo adequado da Grande Obra.

Aleister Crowley – O Bagh-i-Muattar

Se você quiser saber mais sobre esse tema, uma boa referência é o Liber Null e Psiconauta, de Peter J. Carroll. Este livro descreve com mais detalhes essa teoria evolutiva do cérebro humano, e apresenta uma outra criatura mítica que apresenta características humanas, reptilianas, mamíferas, asas, etc. Uma dica: começa com B. E, se você quiser saber mais sobre essa figura começada com B, sua melhor fonte é O Livro de Baphomet, de Julian Vayne e Nikki Wyrd.

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