Oráculos da Antiguidade

Oráculos da Antiguidade

Uma prática mágica que permeia as mais diversas tradições da antiguidade (e da atualidade também!) é a consulta a oráculos. E é interessante perceber que nas consultas ritualísticas a estes oráculos, alguns elementos se repetem em cultos distintos. Apresentaremos aqui um pouco sobre alguns dos mais famosos oráculos da Antiguidade.

O Oráculo de Ápis

Ápis era o Deus touro do antigo Egito. Sua adoração tinha algumas particularidades bastante curiosas.

O Oráculo de Ápis funcionava de forma bastante simples, na verdade: o consulente levava, em suas mãos, comida para o Touro Sagrado do templo. Se o touro aceitasse a oferenda, era um presságio favorável. Uma recusa significava más notícias.

Este processo de consulta oracular pode parecer bastante civilizado aos olhos de um observador moderno, mas o culto a Ápis tinha suas excentricidades.

Em alguns ritos, até doze virgens eram levadas ao templo para copular ritualisticamente com o Touro Sagrado. Em outros, ritos de natureza sexual, entre sacerdotisa e sacerdote, eram realizados sobre a carcaça de touros recém-sacrificados. O objetivo destes ritos não era divinação ou consulta a oráculos. É essencialmente a fórmula de comunhão da Mulher com a Besta. No caso específico do culto a Ápis, a intenção era dar origem a um Minotauro, um ser não-humano que seria uma espécie de Messias.

O Oráculo de Delfos

Possivelmente o mais famoso dos oráculos da antiga Grécia, o Oráculo de Delfos tem também suas particularidades.

A escolha da localidade para construí-lo não foi ao acaso. Pastores percebiam que seu gado, quando pastava por uma região específica, sofria severas convulsões. A causa dessas convulsões era um gás alucinógeno que ocorria naturalmente naquele local. Quando experimentado por humanos, além das convulsões, palavras aparentemente desconexas emergiam de suas bocas.

Uma análise fria poderia categorizar isso como mero efeito do gás sobre o sistema nervoso. Mas os sábios gregos não deixaram essa oportunidade passar em branco, e trataram de construir um templo sobre esta localidade, para usar magicamente o poder deste gás para fins oraculares. O êxtase divino causado pelas emanações fazia com que as pitonisas ou sacerdotisas funcionassem como oráculos extremamente poderosos. Pessoas peregrinavam longas distâncias para levar suas dúvidas existenciais a este templo em particular.

Apesar da diferença cronológica, Austin Osman Spare supostamente teria conhecido uma das pitonisas do Oráculo de Delfos, que lhe teria instruído no uso da famosa fórmula da Virgem de Louça.

O Oráculo de Trofônio

Trofônio é um daqueles personagens gregos que ao mesmo tempo apresenta características humanas, heroicas e divinas. Como homem, teria sido um dos construtores do Oráculo de Delfos. Como divindade, era considerado uma versão ctônica de Zeus, e tinha seu próprio oráculo.

O Oráculo de Trofônio foi construído numa localidade onde abelhas eram vistas desaparecendo em uma fenda no chão. Isso pareceu, aos olhos dos Gregos, uma clara indicação de que alguma atividade ctônica importante manifestava-se ali. Seria, portanto, uma boa localidade para um templo. Naturalmente.

Consultar o Oráculo de Trofônio exigia preparo. Era necessário morar na região por alguns dias antes da consulta. Durante este tempo, o consulente deveria banhar-se em um rio específico e alimentar-se da carne de sacrifícios. Na ocasião da consulta, um sacrifício humano era feito, jogando a oferenda em um precipício. Em seguida, o consulente descia uma caverna, e retornava pelo mesmo caminho, mas de costas. O rito como um todo era aterrador. Frequentemente, toda a experiência no submundo era apagada por completo da mente consciente. Dizia-se que quem realizava a descida fixava-se para sempre em um estado de tristeza profunda. O relato fragmentado de sua experiência era então interpretado pelas pitonisas e sacerdotes, que definiam o resultado da consulta.

Unindo os Oráculos

Kenneth Grant traça um paralelo entre as tradições que empregam pitonisas e sacerdotisas para suas leituras oraculares. A pitonisa, suvasini ou mulher escarlate (diferentes nomes para diferentes tradições) atua “sussurrando” palavras divinamente inspiradas, por suas bocas superiores e inferiores, quando tomadas por um êxtase.

Mesmo fontes antigas, tradicionais, e até mesmo puritanas admitem o importante papel do mesmerismo e da atuação das sacerdotisas para os oráculos. Este mesmerismo das sacerdotisas talvez seja a forma mais palpável e perceptível da comunhão da mulher com a besta. A sacerdotisa é acometida de obsessão por um aspecto animal, e assim é capaz de manifestar o divino – neste caso, de forma oracular.

O próprio nome pitonisa deixa clara a relação com um animal – neste caso, as serpentes. Mas o mesmo se aplica ao culto de Ápis e às abelhas de Trofônio. Aliás, coincidência ou não, apis é a palavra latina para abelha.

Este mesmerismo é o que Austin Osman Spare chama de Ressurgência Atávica. Trata-se de despertar características animais primordiais, que podem ser acessadas para obter uma fração deste poder. É o conceito nu e cru das jornadas xamânicas, da assunção de formas-deus, e de diversos outros sistemas mágicos em pontos intermediários do espectro.

 

O Renascer da Magia, de Kenneth Grant, descreve em maiores detalhes os ritos de adoração a Ápis e seus significados simbólicos; relata a experiência de Spare com a pitonisa de Delfos e explica a fórmula sexual de Virgem de Louça. Ainda sobre Spare, sua complexa fórmula de ressurgência atávica é descrita de forma muito compreensível nesta mesma obra.

Aleister Crowley and the Hidden God (ainda não publicado no Brasil), também de Kenneth Grant, entra em maiores detalhes sobre o funcionamento dos oráculos ofidianos nas tradições africanas.

O Renascer da Magia está disponível na loja da Penumbra Livros (que tem planos para lançar Aleister Crowley and the Hidden God no futuro próximo).

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